Cinco homens e um destino: os juízes do Supremo que decidirão o futuro da Lava-Jato


Quando a famosa “Lista do Janot” chegou ao Supremo Tribunal Federal, Brasília sofria racionamento de água e a expectativa do vazamento dos nomes ali relacionados já movimentava as bolsas de apostas informais há pelo menos duas semanas. A lista, afinal, não mostrou muitas novidades em comparação com o que mídia já especulava e com o “que anda nas cabeças, anda nas bocas” da capital.

No entanto, pouco ou nada se falou sobre o perfil da famosa “Segunda Turma” do Supremo. Por mais que ela tenha sido analisada – superficialmente – após a morte do ministro Teori Zavascki, continua ignorada. Na prática, a “Segunda Turma” é onde mora o futuro da Lava-Jato, pois funciona como o poderoso filtro do plenário.

Não me condenem pelo recurso ao lugar comum da analogia com o título do famoso filme de John Sturges (1960) inspirado em Os Sete Samurais, com o remake recente. Nas três obras, como hoje, tratava-se de fazer justiça. No cinema, com as próprias mãos; no Supremo, com a lei.

Não só a lei. A política corre nas veias da maioria dos integrantes do grupo formado por Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello, e, obviamente, de Edson Fachin, o relator do caso, que teria feito campanha para a ex-presidente Dilma Rousseff. Essa particularidade da política no sangue tornará a análise e julgamento de diversos nomes da “lista de Janot” ainda mais interessante e simbólica. Mais que um western, um thriller.

Afinal, um grupo restrito de brasileiros definirá a esperança de milhões, de certa forma legitimando muitas das inúmeras manifestações a favor e contra a Lava-Jato ocorridas no Brasil, nos últimos anos.

Quem é quem na “Segunda Turma”

Em busca de percepções sobre os juízes da “Segunda Turma”, conversei com um grupo pequeno e heterogêneo de parlamentares que não estão na lista, mas pertencem aos partidos dos políticos envolvidos, portanto conhecem bem quem está. Interessante como percebem o ministro Lewandowski como alguém “muito próximo ao establishment político do PT”, que mantém com o partido uma relação muito além de simples encontros casuais em Lisboa.

Já Toffoli, que sempre foi tratado pela imprensa como o “ex-advogado do PT”, hoje é visto como alguém distante do partido. “Há muito tempo Toffoli largou os colegas de mão”, disse esse parlamentar petista, sinalizando o que outro completou:

“Hoje ele é muito próximo ao Gilmar, diria que são aliados”. De acordo com a visão que muitos têm do ministro Gilmar Mendes em Brasília, uma se sobressai. A de ministro garantista, que não cometerá excessos durante as análises dos nomes alinhados por Janot.

Celso de Mello é uma unanimidade. Como decano, ele representa a esperança de gregos e troianos de que haverá equilíbrio e técnica nas decisões. Em um ambiente com essas características, caso ele reine, o próximo passo do jogo é imaginar quem sobreviveria e quem seria condenado.

Com sua composição mais conservadora no sentido jurídico, menos sujeita a midiatização, a “Segunda Turma” não deixará de ter expressivo peso político, o que tornará suas decisões o resultado de misturas inesperadas, como, por exemplo, essa da técnica com tempero político.

Publicado na GQ em 22/03/17

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