Capitalismo e Estado no pós-Lava Jato


Nada será como antes depois da Operação Lava Jato. Tanto por revelar as ligações espúrias entre partidos, políticos, fornecedores do governo e órgãos públicos, quanto por levar para a prisão líderes de algumas das principais empresas do País.

O véu desvendado pela Lava Jato pôs à mostra o imenso cipoal de negociatas que misturam interesses políticos, empresariais e pessoais, tendo os cofres públicos como os maiores patrocinadores da orgia.

Até agora, apenas os empresários estão pagando a conta, com longas prisões, acordos de delação premiada e tentativas de acordo de leniência para suas empresas. Os políticos estão na linha de tiro do Supremo Tribunal Federal. Dizem que o Judiciário também. Mas esses ainda são capítulos a serem escritos.

Merecem destaque as transformações geradas pelo impacto da investigação. Por impor severas derrotas ao modelo capitalista vigente e estimulando, por consequência, imensas transformações na forma de se fazer negócios no Brasil.

Pesquisa recente da AmCham de São Paulo indicou que a preocupação das empresas com compliance aumentou exponencialmente. Cento e oitenta gestores de empresas foram ouvidos e a imensa maioria afirmou que os programas de compliance foram reforçados a partir da promulgação da Lei Anticorrupção e das revelações da Lava Jato.

Lamentavelmente, o governo e a Justiça ainda não se deram conta de que as medidas de compliance e transparência devem ser adotadas de lado a lado.

A Lava Jato está transformando o capitalismo tupiniquim. Porém, outras transformações também devem emergir como desdobramento das investigações no âmbito da administração pública, no Legislativo e na própria Justiça.

Com o governo mais transparente, acessível e verdadeiramente democrático em suas relações com o setor privado, a corrupção seria muito menor. Com a Justiça mais eficiente na prestação do serviço jurisdicional e a burocracia de todos os Poderes menos corporativista, tudo será muito melhor. São desdobramentos que devem ser perseguidos pela cidadania.

O post de Murillo de Aragão foi publicado originalmente na Isto É

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