Aproximação de Cuba e EUA abre caminho para a transição política


Em dezembro de 2014, Raúl Castro e Barack Obama anunciaram simultaneamente que Cuba e Estados Unidos estavam descongelando as relações e iniciando um processo de reaproximação política e diplomática. Um caminho que, previam, seria longo, difícil, mas que chegaria a bom termo. No ano passado, as embaixadas cubana em Washington e norte-americana em Havana, foram reabertas depois de mais de 50 anos.

No início do mês, a Casa Branca confirmou que o presidente dos Estados Unidos realizará visita a Cuba nos dias 21 e 22 de março, a primeira de um líder norte-americano em quase 90 anos.

A reaproximação entre os dois países representará o fim de um dos últimos episódios da Guerra Fria. Terá de passar ainda pelo fim do malsucedido e indefensável bloqueio econômico à Ilha e à devolução da Baía de Guantánamo, símbolo da guerra contra o terrorismo da era Bush.

Em abril de 2015, Obama e Castro se reuniram na Cúpula das Américas realizada no Panamá. Sem dúvida, a mais importante de todas, pois foi a primeira vez que o encontro contou com a presença de um líder cubano. Os dois deixaram claro ao mundo a disposição em pôr fim aos conflitos políticos que sustentam redes ilegais e clandestinas de ambos os lados. A crise econômica teve o seu papel nisso tudo. Havana também se deu conta que países como Rússia, Brasil e Venezuela, já não tinham como dar suporte financeiro e mesmo político. A China poderia ser a salvação. Só poderia.

Barack Obama, por sua vez, insistia em deixar um legado que o diferenciasse dos demais presidentes norte-americanos. Pelo menos daqueles que viu enquanto crescia. Discreta e secretamente, construiu pontes e iniciou um diálogo com Cuba que contou, por sua vez, com a boa vontade de uma velha guarda acostumada a utilizar o inimigo imperialista como justificativa para todos os seus males. No meio disso tudo, ainda tivemos a libertação de cinco agentes de inteligência cubanos presos nos Estados Unidos desde 1997. Gestos concretos de vontade política para resolver as diferenças pesaram muito em tudo isso.

Diálogo entre Cuba e EUA

Ainda que lentamente, o diálogo avança. E é melhor que seja assim, sem preocupação com os holofotes e centrado

Diálogo entre Cuba e EUA ainda é lento

nos temas concretos e objetivos da relação. O levantamento do bloqueio econômico agora é apenas uma questão de tempo. É bastante provável que Obama o anuncie em março, em Havana. Seria mais um capítulo histórico nesta reaproximação que só faz bem ao hemisfério. Já não há mais espaço para isolamentos e o diálogo, por mais difícil que seja ainda deve ser a principal ferramenta.

É claro que divergências continuarão existindo. Desconfianças também. De parte a parte, mas é algo normal numa relação que passou mais de meio século “dando um tempo”. Seria ingênuo acreditar que após tantas idas e vindas, Washington e Havana simplesmente se tornariam os melhores amigos do continente.

Enquanto este processo caminha a seu ritmo, os olhos do mundo se voltam para a transição política em Cuba. É fato que o regime castrista não duraria eternamente, ainda que muitos esquerdistas sigam acreditando piamente nisso. Raúl Castro de 85 anos, já deixou claro que pretende retirar-se. Poderá entregar o poder para que Cuba siga dando os passos necessários para a sua total inserção na comunidade internacional.

Cuba foi valente, mas também foi teimosa. Erros e acertos agora ficam no passado e o mais importante é mirar no futuro. E para muita gente importante, inclusive do governo brasileiro, o futuro de Cuba passa por Miguel Díaz-Canel, atual vice-presidente. Um político novo, moderno, afável e aberto ao diálogo sem pré-condições.

Ele poderá ser o novo presidente de Cuba até 2018 ou a partir daí. O que ainda não está certo é como essa transição se dará. Sabe-se que será lenta. Não há pressa embora haja convicção de sua necessidade. É bastante provável que Raúl Castro e seus companheiros de Revolução Cubana, formem uma espécie de “Conselho de Defesa Nacional”, algo que estará acima do novo presidente, monitorando seus passos e decisões, mas dando-lhe cada vez mais autonomia e poder.
É preciso ter em mente o que era Cuba antes da Revolução de 1959, no que se transformou e no potencial que tem em termos de futuro, para os seus interesses e os interesses maiores da América Latina. Não é à toa que a própria União Européia tratou de reativar os mecanismos de Consulta Política com a Ilha. Países como França, Alemanha, Itália, Espanha, entre outros, sabem que as oportunidades serão grandes, embora limitadas.

O Brasil que já mantém grandes investimentos em Cuba, sempre apostou no fim do bloqueio econômico como forma de ter na Ilha, uma ponte para outros mercados. Acredita que o suporte dado ao longo de todas essas décadas lhe beneficiará no futuro. Não é o que se vê atualmente em relação ao Porto de Mariel, construído com recursos do BNDES. Cuba tem negociado uma Zona Franca com os Estados Unidos, a Rússia, a China e outros países, menos com o Brasil.

Do ponto de vista político, a normalização das relações entre Cuba e os Estados Unidos impactará diretamente no distensionamento das relações entre Washington e as capitais bolivarianas. Não há como Bolívia, Equador e Venezuela, por exemplo, sustentarem a tese do inimigo externo e imperialista se Cuba, o símbolo maior dessa batalha, decidiu sentar e conversar.

E ambos, cubanos e norte-americanos, viram que do outro lado, não há nenhum monstro. Há interesses, como de resto, já se conhece há tempos nas relações internacionais.

Postagens relacionadas

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Institutos de pesquisa confrontam os likes do Twitter de Bolsonaro

Possível liberação do aborto de fetos com microcefalia pelo STF é criticada na CAS

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais