No último sábado, 5, os países fundadores do MERCOSUL decidiram pela suspensão definitiva da Venezuela do bloco. Apesar dos esforços por diálogo, o regime chavista insistiu em realizar uma eleição para a Assembleia Constituinte já empossada à força no lugar da Assembleia Nacional de maioria oposicionista. Além disso, o regime destituiu a Procuradora-Geral da República, Luisa Ortega, e impôs em seu lugar Tareck Willian Saab, um dos expoentes mais radicais do chavismo.
Neste domingo, 6, uma rebelião militar foi sufocada, mas mostra como é crescente o descontentamento com o endurecimento do regime nas Forças Armadas. Com mão de ferro, Diosdado Cabello, o braço militar do chavismo, liderou pessoalmente a operação.
Após a decisão anunciada em São Paulo, Nicolás Maduro afirmou em Caracas que “ninguém tira a Venezuela do MERCOSUL”. O sucessor de Hugo Chávez não dá mostras de que é possível um diálogo civilizado em torno da normalização democrática do país.
Poucos aliados
Ao regime chavista resta o apoio de Bolívia, Cuba, Coreia do Norte e Nicarágua. Não poderia ser mais patético. Regimes cujos líderes enriqueceram graças à corrupção e ao totalitarismo, são os que emprestam apoio àquele que chegou ao poder também com o apoio da Argentina de Cristina Kirchner e do Brasil de Dilma Rousseff.
Mas, o que realmente tem pesado para manter o governo e permitir o seu endurecimento vem de fora. China e Rússia decidiram tornar público o apoio que dão ao regime chavista.
A China o faz, entre outras coisas, por conta do bilhões de dólares que tem aplicados no país. Por via das dúvidas, mantém um canal de diálogo com a oposição. Se o governo cair, será preciso dialogar com que ascender. Foi assim com Temer no Brasil apesar das juras de amor ao petismo.
Saia Justa nos BRICS
No entanto, a postura chinesa poderá criar uma tremenda saia justa para o Brasil na 9ª Cúpula dos BRICS que realizar-se-à entre 3 e 5 de setembro em Xiamen. Temer não quer problemas com Pequim e prefere que o tema Venezuela sequer conste das conversas. Ele respeita a posição da China e não quer que a decisão encabeçada por Brasil e Argentina represente um óbice para as relações bilaterais.
Na mesma esteira, o presidente brasileiro quer distância dos problemas entre China e Índia, rivais na Ásia. Temer gostaria que os BRICS aproveitassem a ocasião para fortalecer o bloco em meio à tantas turbulências.
Já a Rússia que acaba de injetar alguns bilhões de dólares para que Maduro possa ganhar um respiro, parece disposta a segurá-lo no poder como provocação à administração Trump. Às turras com Washington, Moscou tem interesse político, estratégico e econômico na permanência de Maduro.
Venezuela e EUA: Petrodólares
Mas, a Rússia não deve criar problemas para o Brasil por ter trabalhado pela suspensão de Caracas do MERCOSUL. Putin quer mesmo é ver Donald Trump pressionado e enrolado internamente. Ele sabe que a única medida efetiva dos Estados Unidos para frear Maduro e o regime chavista está no boicote ao petróleo venezuelano. Isso definitivamente não acontecerá.
Como a Venezuela nunca deixou de entregar uma única gota do produto aos Estados Unidos e não cogita fazê-lo neste momento. Pelo contrário, o petróleo ainda é o que resta.
Guerra civil
Diante deste cenário, a Venezuela caminha para um desfecho sangrento. Falta muito pouco para desatar-se uma guerra civil. E não se percebe nenhum mediador internacional em condições de reverter esta tendência.
Ante esse quadro, seria interessante saber como ficam os milhões de dólares que a esquerda brasileira enviou para a Venezuela e que estão totalmente fora do sistema financeiro. Este dinheiro, possivelmente desviado de estatais e fruto de esquemas de corrupção como já revelados por Mônica Moura e João Santana, captava dinheiro no PT para campanhas políticas na região.
Além da Venezuela, há dinheiro em Cuba, Nicarágua e em países da Europa. Dinheiro que tem contribuído para manter a narrativa do golpe contra o petismo que derrubou Dilma Rousseff.