“Já vi cidades quebrarem depois dos jogos, como Atenas. Antes, nunca”.
A ironia de um diretor de comitê olímpico, reproduzida pela coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, retrata o sentimento de completo constrangimento que envolve o decreto de estado de calamidade pública do Rio de Janeiro, assinado às vésperas do início dos Jogos Olímpicos.
A decisão do governador em exercício, Francisco Dornelles, destinada a enfrentar a grave situação financeira do estado, alimenta um clima de insegurança a 45 dias do início das Olimpíadas, em 5 de agosto. Especialistas consideraram o decreto uma medida ousada, que expõe a falta de planejamento da gestão pública para um evento grandioso como as Olimpíadas.
Há críticas também quanto à legalidade da medida, já que calamidade pública diz-se respeito a desastres naturais. Veja matéria do G1 que critica a decisão do governador fluminense em exercício.
Às vésperas do encontro dos governadores com o presidente interino Michel Temer, o decreto de calamidade do estado do RJ gerou uma saia justa para o governo federal. O encontro, com o objetivo de negociar as dívidas dos estados, ao mesmo tempo em que é um alívio para os governos, é uma pedra no sapato para a equipe econômica, obrigada a autorizar a suspensão dos pagamentos dos estados até o final do ano.
O governo resolveu agir rapidamente porque a preocupação com os turistas durante as Olimpíadas é crescente. Saúde e segurança são dois focos de tensão. O recente resgate do criminoso Fat Family, no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro da cidade, revela a audácia e o poder armado dos bandidos, frente às autoridades policiais. Ouça o áudio em que o sucesso do resgate é comemorado por um dos bandidos:
O hospital Souza Aguiar, de onde o criminoso foi resgatado, é um dos que estão credenciados para atendimento de turistas durante os jogos. Mesmo com a promessa de investimento em segurança por parte do governador em exercício, Francisco Dornelles, fica a dúvida do quanto realmente poderá ser feito em tão pouco tempo, com a verba a ser liberada pelo governo federal.
A discussão, por enquanto, está apenas no âmbito da violência interna, do crime organizado carioca. Excluem-se aqui ameaças de atentados terroristas, e o vislumbre de um cenário apocalíptico. Se a polícia está tão mal preparada pra lidar com os bandidos de casa, o que dirá dos bandidos de fora?
As possibilidades diante do que o Rio de Janeiro enfrentará até o início dos Jogos Olímpicos faz com que os problemas que o país enfrentava em sua preparação para a Copa pareçam coisa pequena. Antes fossem obras em estádios e infraestrutura aeroportuária os problemas do Rio para os jogos. Enquanto governo e organizadores do Comitê Olímpico procuram construir um cenário de boas expectativas para as Olimpíadas, com um legado de investimentos de turistas, a realidade dos serviços básicos do RJ mostra que, o Brasil pode passar por um dos maiores constrangimentos de sua história.
A Grécia, berço dos jogos olímpicos, e cuja economia descarrilou após os jogos de 2004, tem muito a nos ensinar: altos custos, falta de planejamento e corrupção podem fazer com que a economia brasileira não tenha muitos motivos para comemorar, ao final das competições. Confira abaixo infográfico de O Globo, com um panorama da crise no RJ: