A morte e a morte da Lava-Jato


Periodicamente, a imprensa anuncia – com estardalhaço – que a Operação Lava-Jato está ameaçada. Todos os movimentos políticos ocorridos, ainda na época da ex-presidente Dilma Rousseff e já na era Temer, foram interpretados, de alguma forma, como bloqueios e tentativas de obstrução das investigações. De votações no Congresso a nomeações de ministros, entre outros fatos.

Até a morte do ministro do STF Teori Zavascki ensejou especulações sobre o futuro da Operação, a partir da teoria de que sua morte poderia ter sido um atentado. A Operação Lava-Jato, no entanto, continua firme e forte.

A narrativa de sua morte tem três objetivos precisos. O primeiro é criar uma preocupação que leve a opinião pública a pressionar por sua continuidade, mas não apenas isso. Também busca criar um movimento que amplie seus efeitos e dê sustentação ao ativismo judicial de muitas das decisões – algumas extravagantes – no âmbito da Operação.

E o movimento vai além: visa a constranger os políticos a não adotarem medidas que “matem” a Lava-Jato. Assim, anuncia-se a morte da Operação como forma de torná-la imortal.

Ou seja, a “morte” da Lava-Jato é identificada com o não avanço das propostas que poderiam trazer restrições ao ativismo judicial. Ativismo que estimula decisões monocráticas, prisões de longo tempo, conduções coercitivas sem prévio convite, entre outras medidas.

Tudo sob o aplauso da opinião pública, que acredita – com e sem razão – que, se não for assim, na marra, nada vai acontecer. Para alegria de muitos, a Lava-Jato não vai morrer. Mesmo que o ativismo judicial seja contido, que radicalismos sejam limados e que o sistema político aprove algumas das medidas de alívio, as transformações resultantes já serão decisivas para um futuro diferente.

O capitalismo tupiniquim vai dar lugar a outro, mais transparente e menos corrupto. O sistema político vai ser depurado, ainda que em velocidade que desagrade ao nosso autoritarismo cívico. Dezenas de políticos terão suas carreiras ceifadas. Outros vão escapar por conta de minúcias.

Partidos políticos importantes vão perder a competitividade. Mas, no final das contas, sob uma perspectiva histórica, a ela será lembrada como marco de transformação profunda no sistema político e econômico do País. Pelo simples fato de que a Lava-Jato é imortal.

Publicado na Isto É em 17/02/2017

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