Durante os últimos anos estivemos acostumados a buscar nas palavras dos grandes líderes mundiais o rumo da política internacional. Eles se empenhavam em produzir discursos que serviriam posteriormente como material para análises, avaliações, enfim para explicar o caráter e as motivações de suas decisões.
Compartilhe no Whatsapp: http://bit.ly/2qrCOf9
Os discursos, além da capacidade de mobilizar países, deram às multidões a esperança de que careciam em situações difíceis, foram também oportunidades para se expressar grandes compromissos. Bastaria lembrar os discursos durante a Segunda Guerra Mundial de Winston Churchill em uma conjuntura em que era necessário coragem para enfrentar um inimigo muito mais poderoso, ou convocações de Charles de Gaulle, desde o exílio, ao povo francês para que lutasse contra o mesmo inimigo e rejeitasse a resignação do governo colaboracionista instalado em Vichy pelos nazistas.
John Kennedy com seu famoso “Ich bin ein Berliner” (eu sou berlinense) diante de milhares de habitantes que haviam visto erguer um muro que dividia a antiga capital em duas metades no auge da Guerra Fria. Era uma manifestação de solidariedade e um compromisso com os princípios da liberdade que os berlinenses veriam restabelecidos muitos anos depois.
O gestual de Trump
Nos dias de hoje, a importância dos discursos está em declínio diante da força dos gestos que podem ser observados simultaneamente em todo o mundo em imagens de alta resolução. A tecnologia está amplificando ao máximo o gestual dos grandes líderes na tentativa de enxergar algo além dos discursos de praxe, das frases de conveniência.
Os gestos de Donald Trump na sua primeira viagem ao exterior, estão dizendo muito mais que os discursos. O mais explícito foi o empurrão dado ao primeiro-ministro de Montenegro, Dusko Markovic, dando a entender de que só à base de força física poderá se impor sobre outros líderes, indicando uma carência de argumentos.
Detalhe não menos importante foi o longo e duro aperto de mãos que Trump recebeu do presidente francês, Emmanuel Macron, querendo mostrar também nas marcas deixadas no norte-americano a atitude de quem não pode se deixar amedrontar por essas demonstrações de força comuns nas quadras de esporte.
O fato é que a tecnologia deixa todo mundo mais perto dessas intimidades dos donos do poder, permitindo enxergar fragilidades que até bem pouco estavam circunscritas aos discursos.