A disputa pelo Palácio dos Bandeirantes teve uma série de idas e vindas na semana passada após um movimento estratégico pelo agora ex-governador de São Paulo (SP) João Doria (PSDB) para assegurar apoio interno à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Ameaçado pelo retorno do governador do Rio Grande do Sul (RS), Eduardo Leite (PSDB), ao tabuleiro da sucessão presidencial, Doria realizou um ousado movimento que surpreendeu os tucanos: ameaçou desistir de concorrer ao Palácio do Planalto, sair do partido e não concorrer nas eleições de outubro.
A jogada estratégica de Doria trazia, como consequência, a implosão da pré-candidatura do agora governador de SP, Rodrigo Garcia (PSDB), que sem poder assumir o Palácio dos Bandeirantes ficaria impossibilitado de construir uma marca para seu governo.
O ousado movimento de João Doria deu uma sobrevida a ele na disputa presidencial. Diante do risco de racha do PSDB em SP, o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, divulgou uma carta confirmando que Doria é o pré-candidato da sigla.
Com essa “garantia”, Doria renunciou e transmitiu o cargo para Rodrigo Garcia após uma série de especulações.
O lance estratégico de Doria, porém, deixou consequências. O apresentador da TV Bandeirantes, que havia sido lançado pelo União Brasil como pré-candidato ao Senado na chapa de Rodrigo Garcia, migrou para o PSC e passou a ser cogitado como um possível candidato a senador na chapa que será encabeçada pelo ex-ministro de Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio também atraiu para o Republicanos o ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) Paulo Skaf, que estava no MDB. Ao que tudo indica, a deputada federal Rosana Valle, que trocou o PSB pelo PL, deve desistir de concorrer como vice de Tarcísio. Com isso, o nome mais contado passa a ser de Skaf.
A saída de Datena da fatura coligação de Rodrigo Garcia é um revés para o PSDB, já que o apresentador da TV Bandeirantes é uma peça estratégica dentro do objetivo de Garcia em crescer para a direita. Assim, com Datena na aliança de Tarcísio de Freitas, o ex-ministro de Bolsonaro vai estruturando uma forte coalizão de direita, ameaçando seriamente a ida do governador paulista ao segundo turno.
No entanto, a movimentação partidária prossegue no estado. Rodrigo Garcia também passou a ser cortejado pelo União Brasil, criando insatisfação no PSDB, que reagiu divulgando uma carta em que convida o ex-prefeito de Salvador (BA) ACM Neto a trocar o União Brasil pelo PSDB.
Neste jogo de forças, quem pode acabar como vice de Rodrigo Garcia é o ex-secretário estadual e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (PSD), que desistiu de concorrer ao Senado por Goiás, e se filiou ao União Brasil.
Conforme podemos observar, a manobra política de João Doria acabou deixando importantes consequências negativas para o PSDB em SP, aumentando o desgaste do partido no estado. Quem se beneficia disso é Tarcísio de Freitas, que conquistou duas peças importantes: Paulo Skaf e Datena.
Embora menos dividida, o campo da esquerda também ainda não conseguiu se unir. As pré-candidaturas do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e do ex-governador Márcio França (PSB) seguem postadas. No entanto, como a aliança nacional entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de SP Geraldo Alckmin (PSB) caminha para um desfecho positivo, abre-se a possibilidade de um entendimento entre Haddad e França.
Caso isso ocorra, a tendência é que o candidato da esquerda – muito provavelmente Fernando Haddad – esteja no segundo turno. A incógnita é quem seria seu adversário, que sairá da disputa entre Rodrigo Garcia e Tarcísio de Freitas, que promete ser muito acirrada.