Polarização deve seguir intensa no país

Fábio Pozzebom/Agência Brasil

Eventos ocorridos na semana passada e decisões a serem tomadas no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) têm potencial para manter o cenário político do país polarizado nos próximos meses. Vejamos:

  • A manifestação do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) de que o porteiro do condomínio em que mora o presidente Jair Bolsonaro mentiu em seu depoimento ao dizer que o ex-PM Élcio Queiroz, suspeito de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ingressou no condomínio onde também mora o sargento reformado Ronnie Lessa, outro suspeito do crime, dizendo que iria para a casa de Jair Bolsonaro, contradizendo a reportagem veiculada no dia anterior pelo Jornal Nacional;
  • A reação negativa provocada no meio político e na grande imprensa à declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), feita durante entrevista concedida à jornalista Leda Nagle, propondo a criação de um “novo AI-5”, caso a esquerda radicalize sua atuação no país;
  • A decisão anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro de cancelar a assinatura da Folha de S.Paulo em todos os órgãos do governo federal, o que gerou uma onda de solidariedade da grande imprensa ao jornal;
  • A possibilidade de o ex-presidente Lula (PT) ser libertado pelo STF, que decidirá no dia 7 de novembro a questão da prisão após a condenação em segunda instância; e
  • O julgamento do pedido de suspeição do ex-juiz e hoje ministro Sérgio Moro no processo do tríplex que condenou Lula (PT) e que pode levar à anulação da sentença imposta ao ex-presidente.

A manutenção desse clima de radicalização poderá produzir as seguintes consequências:

  1. Aumento de tensão no relacionamento do presidente Jair Bolsonaro e da base social bolsonarista com a Rede Globo e os demais veículos da chamada grande imprensa;
  2. Risco de novos protestos de rua, tanto à esquerda quanto à direita. Grupos de esquerda convocaram um protesto contra Jair Bolsonaro na Avenida Paulista para a próxima terça-feira (05). Em contrapartida, grupos de direita se articulam para uma manifestação contra a Rede Globo e a favor do impeachment dos ministros do STF Dias Toffoli (presidente do Tribunal) e Gilmar Mendes;
  3. Intensificação da polarização bolsonarismo x lulismo nas ruas e nas redes sociais, caso o ex-presidente Lula seja solto;
  4. O bolsonarismo tende a ficar mais isolado e com uma narrativa cada vez mais radicalizada para manter mobilizados os seus seguidores;
  5. Ao radicalizar o discurso, Jair Bolsonaro e seu entorno reforçam a imagem de anti-establishment e de vítimas do sistema perante o eleitorado mais conservador;
  6. A apresentação de uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pedindo a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro; e
  7. O acirramento da crise interna no PSL entre os grupos liderados pelo presidente nacional do partido, deputado federal Luciano Bivar (PE), e a família Bolsonaro.

Apesar de a pauta reformista estar progredindo devido ao engajamento da equipe econômica e à liderança no Congresso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a desarticulação política do governo, a crise no interior do PSL, a possibilidade de protestos de rua e o surgimento de eventuais fatos novos são fatores de risco ao avanço da agenda de reformas.

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