Na reta final do mandato de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da Câmara dos Deputados, a temperatura em Brasília voltou a subir, com uma série de novos confrontos entre o parlamentar e o presidente da República, Jair Bolsonaro.
O mais recente embate se deve a uma entrevista dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, à revista Veja. Ele acusa Maia de conspirar pelo impeachment de Jair Bolsonaro.
“Tinha cronograma. Em sessenta dias iriam fazer o impeachment. Tinha gente da Justiça, tinha o Rodrigo Maia, tinha governadores envolvidos. O Doria ligou para mim e disse assim: ‘Paulo, é a chance de salvar a sua biografia. Esse governo não vai durar mais de sessenta dias. Faz um favor? Se salva”, relatou Guedes.
Segundo o ministro da Economia, o plano de derrubada de Bolsonaro contava com o apoio do STF, que estava incomodado com o permanente clima de conflito entre o Executivo, Legislativo e Judiciário. O plano de impeachment teria sido desmontado por Guedes, que conversou com os ministros do Supremo, um por um. A bandeira branca foi a demissão do então ministro da Educação, Abraham Weintraub.
De acordo com Guedes, Weintraub queria aumentar a temperatura, incitando protestos contra o STF, mas também foi desencorajado.
“Nessa hora, eu interferi. Disse que estávamos caindo numa armadilha, que o script já estava montado, que aquilo era inapropriado. Os generais presentes me apoiaram. Sugeri ao presidente mandar o Weintraub para o Banco Mundial, em junho. A partir daí, as coisas se acalmaram entre o governo e o STF”, relatou Guedes.
Weintraub foi demitido em junho de 2020. Ele era visto como o ministro mais radical da ala ideológica de Bolsonaro. No vídeo da reunião ministerial divulgada pelo STF como prova de que o presidente teria interferido na Polícia Federal, Weintraub chama os ministros de “vagabundos” e diz que eles deveriam ser presos.
Em conversa com colunista do UOL, quando questionado sobre o suposto plano de impeachment de Bolsonaro, Maia somente riu e disse: “Estou esperando o Paulo Guedes cumprir 10% das promessas feitas pra eu voltar a respeitá-lo”.
A reportagem do Brasilianista também procurou o presidente da Câmara por meio de sua assessoria de imprensa, mas ele preferiu não comentar o episódio.
Semana de atritos
No mesmo dia em que a entrevista na revista Veja era publicada, Maia estava em guerra declarada contra o governo. Após ser acusado por Bolsonaro de não colocar em votação e deixar caducar a MP que tratava do 13º do salário do Bolsa Família, Maia reagiu colocando o assunto na pauta da Câmara, junto à MP 1000, que trata da prorrogação do Auxílio Emergencial até dezembro de 2020. A oposição queria usar a votação para prorrogar o auxílio para 2020, com o valor R$ 600.
A jogada de Maia teve o objetivo de jogar a responsabilidade pela não expansão do benefício de volta no colo do governo. O blefe surgiu efeito: Paulo Guedes saiu à público para defender a não votação da proposta e a base governista na Câmara entrou em obstrução.