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O “Kamikaze do bem” – Análise

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O governo tentou inúmeras medidas para combater a alta dos preços. Por exemplo, reduzindo impostos e até zerando alguns, mas os efeitos no bolso do consumidor e na avaliação do presidente da República não foram os esperados. Por isso, voltou ao debate a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 01/22, que, há quatro meses, recebeu o apelido de “Kamikaze” e chegou a ser desdenhada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tamanho o impacto que provocaria nas contas públicas.

Pois foi essa medida a cartada do governo na reta final dos trabalhos no Legislativo, provando, mais uma vez, que na política tudo é nuvem. A mudança, nesse caso, foi apenas de opinião, já que a proposta manteve, em sua espinha dorsal, a autorização para o governo despender mais de R$ 41 bilhões em programas sociais sem precisar respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ressuscitada, a PEC foi defendida com unhas e dentes pelos aliados do governo e obteve aval até de Guedes.

Ampliar auxílios e criar novos benefícios em caráter emergencial foi a solução factível para atender à população mais afetada pela inflação. Mas a urgência da medida também embute um fator crucial a ser mensurado: o impacto eleitoral sobre a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. Sentir esse efeito é importante para a candidatura do mandatário porque os mais beneficiados pelas medidas representam a fatia do eleitorado que recebe até dois salários mínimos. E 56% dos eleitores desse grupo, segundo as pesquisas, preferem o ex-presidente Lula (PT), principal adversário de Bolsonaro, que conta com a preferência de apenas 20%.

Mas o timing da proposta coloca em dúvida se haverá, de fato, o retorno político esperado. Se promulgada até o recesso parlamentar, a implementação dos benefícios só começará em agosto, a 60 dias do pleito. Ou seja, até a data do primeiro turno (2 de outubro), poderão ser depositadas apenas três das seis parcelas do Voucher Caminhoneiro, do Auxílio Taxista, do Auxílio Brasil turbinado e do Vale-Gás com valor dobrado.

É inegável que as medidas têm força para ajudar qualquer candidato eleitoralmente. Mas vale lembrar que o eleitor que Bolsonaro busca conquistar hoje tem na inflação o seu principal pesadelo, o que pode atrapalhar uma percepção mais imediata dessas benfeitorias. Em resumo, a questão é se os eleitores vão digerir tais benesses a tempo de elas gerarem um efeito nas urnas a favor de Bolsonaro.

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