Mesmo com o desgaste que vem sofrendo desde que assumiu o desafio de trocar a magistratura pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro continua representando o principal polo de sustentação do governo Jair Bolsonaro.
Prova disso são os números extremamente positivos que o ministro registrou na pesquisa Datafolha na semana passada. Segundo a sondagem, Moro tem hoje uma avaliação positiva de 54%. Esse número é 25 pontos percentuais maior que a popularidade do presidente Bolsonaro, de 29%.
A respeito dessa pesquisa, vale registrar que Moro desfruta de grande popularidade justamente onde Bolsonaro também é popular. Ou seja, junto aos homens, de cor branca, evangélicos e habitantes dos centros urbanos. Apesar da importância de Moro para o governo Bolsonaro, fatos políticos podem empurrar o ministro e o presidente para lados opostos.
Embora os ruídos entre os dois provocados pelas recentes mudanças de comando no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e na Receita Federal tenham sido contornados, a provável saída de Marcelo Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal pode gerar novas divergências.
O mesmo poderá ocorrer com a escolha de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Além da rejeição de procuradores ligados à Operação Lava-Jato, o nome de Aras tem sido criticado também entre as bases bolsonaristas nas redes sociais.
Outro tema que trará desafios para Bolsonaro são os vetos ao projeto de lei do abuso de autoridade. Embora esse assunto não deva gerar embates com Moro, há o risco de os vetos presidenciais serem derrubados pelo Congresso, o que geraria um novo foco de tensão entre o Legislativo e o Planalto.
Apesar de recentemente Bolsonaro e Moro terem publicado fotos juntos nas redes sociais com o objetivo de afastar rumores de um eventual distanciamento entre eles, há quem entenda que o ministro está passando por um processo de “fritura”.
Por trás dessa tentativa de desgaste da imagem do ministro está a intenção do presidente de “reduzir” o tamanho de Moro, visto pelo bolsonarismo e também por aliados mais ao centro, como uma peça-chave para o sucesso do governo Bolsonaro e a sucessão de 2022.
Conforme temos afirmado, no curto prazo a tendência é que a relação entre Bolsonaro e Moro continue como está, afinal, um depende do outro. O andamento da conjuntura política e a necessidade de sobrevivência poderão, contudo, empurrá-los para lados diferentes