Na semana passada, mais um senador morreu por complicações da Covid-19 e o acontecimento impactou negativamente a percepção sobre a forma como o Governo está conduzindo o combate à pandemia. “O Major Olímpio era muito popular dentro do Congresso Nacional e isso causou um impacto psicológico grande levando muitos políticos a refletirem sobre como o governo vem tratando a pandemia, isso desgastou a imagem do governo”, comentou o cientista político Cristiano Noronha na live semanal Política Brasileira, da Arko Advice.
Na análise dos especialistas, a forma como o presidente Jair Bolsonaro vem conduzindo a substituição do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, desagradou o Centrão, já que o nome da médica Ludhmila Hajjar havia sido indicado pela base, mas acabou não prosperando.
Para Aragão, a situação fragilizou a relação do governo com o centrão, mas isso não significa que haverá uma ruptura com a base. “Nesse caso da Ludhmila foi uma pequena crise. Porém, o Bolsonaro tem que cuidar, não é bom brincar com essa base. Situações assim podem gerar uma pressão adicional em cima do governo.” O cientista político acrescentou, ainda, que esse mal-estar pode gerar mais pressões em favor de uma reforma ministerial que dê mais espaço para o centrão.
“Desde o começo falamos bastante sobre esse fortalecimento da base política do governo no Congresso, mas o Bolsonaro ter apoiado o Lira e Pacheco não garantia um apoio total e inquestionável por parte da base. Nesta última semana o Congresso deu provas de sua autonomia obrigando o Governo a aceitar a derrubada de vetos, alguns inclusive que o governo não queria que fossem derrubados.”
Segundo Murillo, à medida que a situação da pandemia continua a evoluir negativamente, a dependência do presidente com o centrão será maior e esta se tornou uma situação delicada para Bolsonaro, para evitar que o centrão tome atitudes que vão prejudicar o governo. “Como por exemplo, acelerar a votação do auxílio emergencial e abrir uma brecha para aumentar o benefício, seria uma tragédia para a questão fiscal. Não é um relacionamento tranquilo e o Bolsonaro tem que ficar atento para evitar maiores atritos”, apontou.
Cristiano Noronha destacou que, apesar da pressão no centrão, ninguém está entregando cargos. A pressão é apenas por resultados. Murillo de Aragão acrescentou que “o centrão vai até a beira do precipício, mas não pula” e esse tem sido um fator de estabilidade política no país. “No final, o centrão acaba arbitrando a transição dos polos ideológicos no comando político.”
“Muita gente fala do ocorrido no governo Dilma, que ela foi abandonada pelo centrão no meio do mandato, mas é importante lembrar que isso acontece no meio do segundo mandato, não tinha mais expectativa de reeleição e quem desencadeou o processo de impeachment foi o Eduardo Cunha, que tinha uma relação ruim com PT. Esse não é o caso do Arthur Lira e Bolsonaro neste momento, não é uma relação tão desgastada”, destacou Cristiano.
A situação com a ex-presidente Dilma Rousseff decorreu exatamente no início de um processo de independência do Legislativo, antes o Executivo exercia maior controle, com a execução de emendas orçamentárias. “Quando isso deixa de ser possível, a autonomia do legislativo gera esse tipo de comportamento, então hoje o Bolsonaro precisa muito mais do congresso do que o congresso precisa dele”, opinou Murillo de Aragão.