Investigação sobre Abin paralela machuca Bolsonaro, avalia Murillo de Aragão

Bolsonaro - Foto: Isac Nóbrega/PR

O ex-presidente Jair Bolsonaro deve perder apoio com as investigações da Polícia Federal (PF) sobre espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência, episódio conhecido como Abin paralela. O advogado, cientista político e CEO da Arko Advice, Murillo de Aragão, avaliou a repercussão do caso como negativa para o bolsonarismo em participação no programa WW, da CNN, nessa segunda-feira (29).  

— Eu acho que Bolsonaro fica machucado por esse episódio todo, ainda que, por outro lado, reforce o discurso de vítima, já que as batidas, como ele disse ‘estão querendo me esculachar’. Isso serve para justificar uma pretensa perseguição política — pontuou Murillo. 

Murillo de Aragão, CEO da Arko Advice, em participação no WW, da CNN. Foto: Reprodução Youtube / CNN

Quanto à possibilidade da existência de fato da Abin paralela, Murillo de Aragão se mostrou cético. 

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— Essa rede de informação, se existir, era profundamente incompetente. Ela poderia ter identificado que, da forma que ele fez a campanha, ele iria perder a eleição. Então eu não vejo que isso tenha funcionado de forma efetivamente profissional. Agora, se existiu, e pelas evidências que aparecem, é uma vergonha, é um escândalo o uso de um organismo público de informação a favor de interesses particulares — explicou Aragão. 

Entenda o imbróglio

Nessa segunda-feira (29), o filho do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi alvo de uma operação de busca e apreensão. 

Segundo as investigações, assessores de Carlos Bolsonaro teriam pedido informações para o ex-diretor da Abin, atualmente deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ). Em operação na semana passada, os agentes encontraram documentos sigilosos impressos em posse de Ramagem. Além dele, os assessores de Carlos também foram alvo de operações da PF.

Carlos Bolsonaro – Foto: Caio César/CMRJ/Direitos reservados

Eleição municipal no RJ

Alexandre Ramagem, um dos indicados como integrantes da Abin parelela, é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL, com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para disputar o pleito. Também na cidade do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro irá disputar reeleição para vereador e participa como um dos coordenadores da campanha de Ramagem à prefeitura.

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Lula e Bolsonaro

Como resposta às investigações, Jair Bolsonaro declarou à CNN que a operação contra seu filho se trata de perseguição política. 

— Eles querem me associar a essa ‘Abin paralela’, mas não vão encontrar nada. É uma pesca em piscina. Não vão tirar um peixe. Estou sendo perseguido pelo governo do Lula. 

Lula classificou a declaração de Bolsonaro de “grande asneira” – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por sua vez, o presidente Lula classificou a declaração de Bolsonaro de “grande asneira”. Em entrevista à rádio CBN Recife, nesta terça-feira (30), o petista afirmou que irá esperar o desfecho das negociações antes de tomar uma decisão quanto à permanência de Alessandro Moretti, diretor-adjunto da agência, que está sob investigação de cooperar com Ramagem após a sua saída da Abin. 

— A gente nunca está seguro — comentou Lula. — Se isso for verdade, isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia. 

Diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti. Foto: Luiz Silveira/ Agência CNJ

Bebianno indicava Abin paralela

Em 2020, no programa Roda Viva, o ex-ministro de Bolsonaro, Gustavo Bebianno,  afirmou que Carlos Bolsonaro tinha várias ideias e chegou a apresentar nomes de policiais para criar uma Abin paralela.

— Um belo dia, o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de 3 agentes, que seriam uma espécie de Abin paralela, porque ele não confiava na Abin — explicou Bebianno.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Reunião ministerial e Abin paralela

Também em 2020, o ex-presidente Bolsonaro disse, durante uma reunião ministerial, que tinha um sistema de inteligência “particular”, sem apresentar detalhes. Na época, ele criticou o sistema de inteligência brasileiro, em referência à Abin e à PF. 

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— O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinforma. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho — enfatizou Bolsonaro.

No entanto, as investigações da PF ainda não apresentaram indícios de que o ex-presidente Jair Bolsonaro participaria do núcleo político da suposta Abin paralela.

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