Para o mercado, a crônica fofoqueira de Brasília parece desimportante. Mas não é. O bate-boca da semana passada entre os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, revela:
a) falta de liderança do presidente Jair Bolsonaro;
b) divisão dentro da equipe ministerial;
c) rachas na coordenação política;
d) pressão da ala ideológica bolsonarista, insatisfeita pela perda de espaço e pela aproximação do governo junto ao Centrão conduzida por Ramos.
Vamos por partes. Bolsonaro comanda, mas não lidera no sentido de conter as divisões e conflitos em níveis razoáveis.
Parece que o presidente se alimenta do conflito para comandar. Mas a um preço alto: perda de vitalidade e de foco.
O embate entre Ricardo Salles e Luiz Eduardo Ramos revela mais uma das muitas divisões de um governo que se move em conflito consigo mesmo. O programa pró-Brasil, pressão por mais investimento em infraestrutura, o Renda Cidadã e a disputa entre Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) são alguns exemplos.
O mais sério aspecto para o mercado e as reformas é a questão da coordenação política. Ramos sofreu críticas de Salles e, também, de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.
Barros acusa Ramos de fechar acordos sem combinar e de dar espaço ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, como se sabe, disputa espaço político com o Centrão.
A consequência dos fatos ocorridos na semana é a evidente perda de foco em torno das reformas. A disputa por influência, poder e recursos se sobrepõe ao necessário avanço de temas relevantes para o governo.
Para piorar, tanto a Câmara (menos) quanto o Senado (mais) também se movem pela agenda da possível reeleição de seus presidentes.
*Análise Arko – Esta coluna é dedicada a notas de análise do cenário político produzidas por especialistas da Arko Advice. Tanto as avaliações como as informações exclusivas são enviadas primeiro aos assinantes. www.arkoadvice.com.br