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A limitada força de mobilização de Lula

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Em sua primeira movimentação política pelo país após deixar a prisão, o ex-presidente Lula (PT), conforme esperado, priorizou o Nordeste. Na quinta-feira (14), ele participou da reunião da executiva estadual do PT em Salvador. E, no domingo (17), esteve no festival de música batizado de “Lula Livre”.

A narrativa proposta pelo ex-presidente não sofreu alteração em relação ao período em que esteve preso em Curitiba. Ele continua seguindo a retórica do “Lula Livre” e explorando a tese de que é vítima de perseguição política, o que acaba tendo ressonância apenas na parcela de esquerda da opinião pública.

No discurso de Lula em Salvador foi possível perceber que, ao menos no curto e médio prazo, o PT não fará nenhum tipo de autocrítica. Também não abrirá mão da posição de protagonista entre os partidos de esquerda. Em sua manifestação, ele declarou que o PT “não nasceu para ser coadjuvante”, voltou a criticar a política econômica do governo Bolsonaro e chamou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, de “canalha”.

Em Recife, no festival de música que uniu apenas simpatizantes da agenda “Lula Livre”, a narrativa foi idêntica. Mesmo limitando sua movimentação política a eventos que reúnem apenas simpatizantes, caso do ato político realizado no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) no dia seguinte à sua libertação, e nas movimentações pelo Nordeste, o discurso de Lula acaba mobilizando apenas a militância do PT e aliados.

Ausente do debate político por quase dois anos, a estratégia inicial de Lula é, através de um discurso mais à esquerda, ocupar a liderança nesse campo. A incógnita é saber por quanto tempo essa narrativa será mantida. Um indício da estratégia que será adotada daqui para a frente ocorrerá na próxima sexta-feira (22), quando o ex-presidente promete divulgar uma carta aos brasileiros na reunião do diretório nacional do PT, na capital paulista.

Embora o retorno de Lula às ruas tenha mobilizado o PT, a sonhada união das forças de esquerda é cada vez mais remota. Por enquanto, apenas PCdoB, PSOL, PCB, PSTU etc. seguem a agenda “Lula Livre”. Partidos mais de centro-esquerda, como PDT, PSB e REDE, continuam evitando uma associação com o ex-presidente. Outro problema que Lula enfrentará é a posição de Ciro Gomes (PDT).

Em suas manifestações após a soltura de Lula, Ciro tem demonstrado que guarda mágoa das eleições de 2018, quando o ex-presidente não avalizou o apoio do PT ao então candidato pedetista. Na semana passada, Ciro emitiu declarações fortes, como “com esta burocracia do PT eu não quero ir nem para o céu” e “o que o Lula promete de manhã não serve de tarde. É um enganador profissional”.

Também o PSB mantém certa distância de Lula. No último sábado (16), o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, afirmou: “Nós vamos cuidar da nossa vida e ele da dele.” Sobre a visita do ex-governador da Paraíba e presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, ao ex-presidente, Siqueira declarou que ele não representou o PSB.

Embora o retorno de Lula ao debate político dê ao PT a possibilidade de construir um discurso, principalmente uma pauta alternativa à agenda econômica do governo Bolsonaro, a capacidade de mobilização do ex-presidente é inferior à esperada pelo PT, o que deixa o partido refém de uma narrativa envelhecida (“Lula Livre”), além de dividir as oposições. Nesse cenário, a possibilidade de Lula criar problemas para o governo dependerá muito mais dos erros do atual presidente.

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