Início » A “guerra” no PSL

A “guerra” no PSL

A+A-
Reset

A disputa entre os grupos liderados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE), acentuou-se na semana passada, turbinando a crise e o racha na legenda. Tudo começou com uma operação realizada pela Polícia Federal (PF) em endereços de Bivar em Pernambuco sobre o suposto uso de candidaturas laranjas pela sigla nas eleições de 2018.

A reação do grupo de Bivar, que viu na operação da PF as digitais do Palácio do Planalto, não tardou. Durante a votação da MP nº 886, que reorganizou a estrutura do governo, a bancada do PSL adotou uma postura de oposição e chegou a obstruir a votação. Diante do posicionamento do partido, o centrão acudiu e evitou a derrota do governo.

A relação entre os dois grupos no PSL ficou ainda pior com a decisão de Bolsonaro de articular a substituição do deputado Delegado Waldir (PSL-GO) da liderança do partido na Câmara pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Em meio a uma guerra de listas e de divulgação de áudios, com ataques mútuos por parte dos dois grupos, a ala liderada pelos Bolsonaro perdeu a disputa interna pela liderança da bancada. Assim, o Delegado Waldir permaneceu no posto.

Numa retaliação ao grupo de Bivar, Bolsonaro trocou a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). A deputada havia assinado a lista em favor da manutenção do Delegado Waldir como líder do partido na Câmara.

O movimento de Bolsonaro não ficou sem troco. Em mais uma derrota do presidente em seu próprio partido, Bivar realizou uma intervenção nos diretórios de São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo, destituiu Eduardo Bolsonaro da presidência do PSL; no Rio, destituiu da presidência o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), também filho do presidente.

Em São Paulo, Eduardo Bolsonaro foi substituído pelo deputado Júnior Bozella; no Rio, o deputado Sargento Gurgel substituirá Flávio Bolsonaro. As mudanças representam uma ameaça ao desempenho do bolsonarismo nas eleições municipais de 2020 nesses dois estados estratégicos. Tal situação tende a aumentar a pressão do núcleo familiar sobre o presidente em favor de um rompimento definitivo com o PSL.

Em outra retaliação do grupo de Bivar sobre Bolsonaro o deputado Luiz Lima (PSL-RJ), que apoiou a troca do Delegado Waldir por Eduardo Bolsonaro na liderança da bancada do partido, anunciou que foi destituído do posto de vice-líder do PSL.

Diante do enfraquecimento do clã Bolsonaro dentro do PSL, a executiva nacional da legenda reforçou o poder de Bivar ampliando de 101 para 153 o número de integrantes do partido com direito a voto nas decisões. Além disso, os deputados Alê Silva (MG), Bibo Nunes (RS), Carlos Jordy (RJ), Carla Zambelli (SP) e Filipe Barros (PR), ligados à ala bolsonarista, tiveram suas atividades partidárias suspensas.

Outra consequência da sucessão de derrotas de Bolsonaro no PSL é a provável inviabilização da indicação do deputado Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington. Ao não conseguir sequer ser indicado para a liderança do partido na Câmara, a aprovação de Eduardo pelo Senado para ser embaixador ficou ainda mais distante.

Com esse grau de tensionamento no PSL, a construção de um ponto de convergência entre as alas de Bolsonaro e Bivar está ficando cada vez mais difícil. Prova disso foram as declarações do Delegado Waldir prometendo “implodir” o presidente, além de pronunciar palavras de baixo calão. Na guerra de declarações, ele acusou Bolsonaro de tentar comprar deputados com cargos. Bolsonaro pediu que a Advocacia-Geral da União (AGU) processe o Delegado Waldir.

Joice Hasselmann também saiu atirando após ser destituída da liderança do governo no Congresso. A deputada afirmou ao jornal O Globo que “a traição é o modus operandi do governo”. Eduardo Bolsonaro respondeu a Joice Hasselmann postando nas redes sociais uma nota de três reais com a foto da deputada.

Nesse cenário, em que o presidente da República sofre derrotas em sua própria legenda e vê o poder de Bivar aumentar, a saída de Bolsonaro e de seus aliados do PSL é uma possibilidade crescente. E a crise interna não deve retroceder na próxima semana.

Na terça-feira (22), o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), deve comparecer nas comissões de Transparência, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado para prestar esclarecimentos sobre a denúncia de que foram usadas candidaturas laranjas no PSL nas eleições de 2018. O fato poderá expor contradições tanto no partido quanto no governo.

Além disso, há movimentos no partido para emplacar uma nova lista para tentar devolver a Eduardo Bolsonaro o posto de líder da legenda na Câmara.

Porém, o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP) anunciou que pedirá ao partido que Eduardo tenha suas funções partidárias suspensas.

Por conta da possível debandada do grupo de Bolsonaro da sigla, a ala de Bivar chegou a especular na semana passada uma eventual fusão com o DEM, a fim de preservar seu protagonismo.

Com o PSL rachado, a dependência do governo ao centrão tende a crescer. Não por acaso Bolsonaro escolheu como novo líder do Congresso um nome do MDB, partido com trânsito fácil entre as bancadas e acostumado ao jogo congressual.

Como Bolsonaro não opera sua articulação política por meio do presidencialismo de coalizão, o custo da governabilidade tende a se elevar. Apesar dessa turbulência, a agenda econômica não será contaminada, pois a crise está concentrada no PSL.

Há o risco, porém, de Bolsonaro ficar mais isolado, já que em menos de dez meses de governo o presidente perdeu precocemente diversos aliados de primeira hora, além de ver as forças de centro adotarem uma postura cada vez mais crítica ao governo.

Quanto à opinião pública, o acirramento da crise no PSL não deve afetar negativamente a imagem de Bolsonaro. Duas pesquisas divulgadas nesta semana (XP/Ipespe e FSB/Veja) mostram que o governo tem uma avaliação positiva de 33%.

Como a base bolsonarista possui uma relação direta com o presidente, tendo votado nele e não no PSL, a crise não deve levar a uma perda de apoio popular no curto prazo.

Páginas do site

Sugira uma pauta ou fale conosco

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Aceitar Saiba mais