A vitória da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) no Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, com mais de 52% dos votos válidos, deve reconduzir a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) à presidência nacional do partido no congresso petista, marcado para novembro.
A manutenção dessa hegemonia da CNB no diretório nacional deve sedimentar, como efeito colateral, a continuidade do isolamento do PT não só no tabuleiro partidário, como também entre as forças de esquerda.
Recentemente, o PT se recusou a participar do ato suprapartidário convocado por opositores do governo Bolsonaro intitulado “Direitos Já” e realizado na PUC-SP. O argumento para a não participação do partido no ato foi a ausência da bandeira “Lula Livre”. Segundo o PT, a legenda só encampará atos que incluam esse slogan.
A decisão do PT mostra que Lula continua dando as cartas nas decisões dos petistas. Também indica que a legenda permanecerá isolada na defesa do ex-presidente.
Esse isolamento decorre de uma estratégia do comando partidário de manter a hegemonia no campo da esquerda num cenário em que PDT, PCdoB, PSB, PSOL, REDE, entre outras legendas, sonham ocupar o espaço que pertence ao PT na política brasileira desde 1989.
O problema dessa estratégia é que ela dificulta uma aliança com as forças de esquerda mais moderadas e críticas da agenda “Lula Livre”, impedindo a formação de uma eventual “frente de esquerda”.
Fora a incapacidade de construir uma narrativa que vá além da defesa do ex-presidente Lula, preso desde 7 de abril de 2018 em Curitiba, o PT ainda não dispõe de uma agenda de futuro. Assim, com o principal partido de esquerda do país mantendo essa postura, a unidade da esquerda é hoje vista como uma utopia.
Nesse quadro, nem mesmo os equívocos cometidos pelo governo Bolsonaro conseguem ser aproveitados a seu favor pela oposição, que está fragmentada e enfraquecida.