As eleições de 2018 caracterizaram-se mais pelo voto contra do que o favorável. Como registrado aqui na Arko News, a ira foi a principal conselheira dos eleitores.
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De acordo com a Justiça Eleitoral, 47 milhões de eleitores explicitamente rejeitaram Jair Bolsonaro, o presidente eleito do Brasil. Este contingente (31,93% do eleitorado) votou no candidato derrotado, Fernando Haddad.
Há, porém, um expressivo número de votantes que optaram pelo voto nulo ou branco. Somam 11 milhões (9,57%).
Somados, os que optaram por Haddad, brancos e nulos totalizam 58,1 milhões (39,46%). Mais do que os votantes no candidato eleito: 57,7 milhões (39,23%).
É como se para cada brasileiro que disse “sim” a Bolsonaro há outro que desferiu um “não” no novo mandatário.
Considerados todos os eleitores, porém, a rejeição é muito maior.
Um quinto do eleitorado (21,30%) sequer foi às urnas exercer seu direito (anacronicamente, a Constituição ainda trata o voto como dever). Foram 31,3 milhões de eleitores que se abstiveram de comparecer às zonas eleitorais.
Com esta expressiva parcela, sobe para 89,5 milhões (60,76%) os cidadãos que, apesar do direito, não sufragaram Bolsonaro como presidente. O número é a soma de votos em Haddad, branco, nulos e abstenção.
Mesmo considerando que um naco da abstenção se deve a cadastros desatualizados, o percentual que não escolheu Bolsonaro é muito alto. Parte da abstenção pode ser ainda resultado da indiferença, mas isto não muda o índice gigamenso de rejeição.
Espírito bélico
Certo, a soma de brancos e nulos mais a abstenção também superaram à larga os votos em Haddad. Ocorre que o candidato ungido por Lula não tem mandato.
Caso 2018 siga o padrão de eleições passadas, as primeiras pesquisas de opinião a respeito do presidente eleito indicarão um percentual superior aos 39,23% por ele angariados nas urnas. A rejeição inicial, porém, está sacramentada.
Se não quiser governar quatro anos com o desprezo de mais da metade da população, Bolsonaro deve incialmente tentar conquistar os 42,4 milhões que não se dispuseram a votar em nenhum dos dois finalistas. Caso seja bem-sucedido nesta empreitada, o próximo passo seria o de seduzir os 47 milhões que escolheram Haddad.
Tarefas que irão exigir do novo presidente um desarmamento do espírito bélico que fez questão de empunhar durante todo o pleito de 2018. Difícil para quem se elegeu prometendo armar a população e metralhar os adversários.
* Itamar Garcez é jornalista