Não há inocentes na política brasileira. Há gente mais ou menos encrencada com a justiça, com ministério público ou com a polícia federal. Sempre restará um fio desencapado capaz de gerar controvérsia, confusão e debate. E os provocadores estão soltos no ambiente. Para eles, é positivo gerar discórdia, cizânia e desencontros. Soltar boatos alarmistas e semear o pânico. O brasileiro dá atenção aos informes exclusivos. Geralmente, não conduzem a nada, mas provocam discussões de bom tamanho.
O caminho percorrido pelo governo Temer começou em dezembro do ano passado, quando o pedido de impeachment foi aceito pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ele, também, envolvido em denúncia sobre lavagem de dinheiro e manutenção de contas no exterior. A presidente, como se sabe, foi vítima por suas famosas pedaladas. Este foi o motivo formal. Mas ela terminou condenada pelo conjunto da obra. É um recorde mundial: quebrar a Petrobras a Eletrobrás, o caixa da União, provocar inflação e relegar ao sucessor um rombo multibilionário.
O governo Temer não teve tempo para se organizar. A posse dos ministros foi uma festa marcada por improviso total. E, rapidamente, os escolhidos entraram em campo para escolher pessoas e conseguir colaboradores dentro do cipoal de interesses partidários vigentes em Brasília. Difícil montar um governo em uma ou duas semanas, sob severa crítica interna, um visível corpo mole dos funcionários ligados ao petismo, além dos interessados em aumentar a faixa de ansiedade de investidores e do público em geral.
O presidente em exercício tem dado demonstrações de equilíbrio. Correu para dar entrevistas aos principais órgãos de imprensa. Segundo quem entende do assunto, sua participação no domingo fez elevar a audiência no Rio e em São Paulo. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também não hesitou em falar para as câmeras de televisão. Trata-se, portanto, de uma administração midiática. Seus principais atores trataram de falar para o público, expor razões, argumentos e projetos. O caminho da nova administração é penoso. Há fogo amigo, porque o Congresso Nacional está longe de ser pacificado.
O impeachment de Dilma Rousseff ainda não foi votado em definitivo. Ela pode voltar. É a terrível ameaça que paira sobre as cabeças dos escolhidos. É necessário fazer com que o ambiente de normalidade seja sugerido aos brasileiros. Na economia sem que haja aquela pletora de projetos inconclusos e delirantes do governo petista. Reduzir a inflação, diminuir o desemprego e fazer chegar ao mundo a mensagem brasileira. Há menos de uma semana como ministro das Relações Exteriores, o senador José Serra já se prepara para viajar à Argentina. A viagem está dentro da tradição na diplomacia brasileira: Buenos Aires é o primeiro destino do chanceler de um novo governo. Mais importante do que isso, porém, é que a ida de Serra demonstra que, apesar dos gritos contrários à posse de Michel Temer de algumas nações latino-americanas, os argentinos irão reconhecer formalmente a gestão do presidente interino.
O entendimento entre Brasil e Argentina é recado muito claro para os demais governos da região. A tendência é que em poucos meses a crise esteja superada. Na mesma medida em que Dilma Rousseff caminha para o esquecimento nos dias antecedentes às eleições municipais de outubro. Ela não tem partido, não tem apoio do PT, e não recebe apoio nem de instituições sindicais. Neste momento, os problemas externos de Temer estão espalhados por Uruguai, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e El Salvador, o que não chega a constituir embaraço.
A política externa do governo petista foi um completo desastre. Completou a sequencia de problemas que deixou pelo caminho na sua administração ruinosa. Mas ela fará barulho, enquanto puder. Os petistas graúdos estão lambendo suas feridas, pensando em passar pelas eleições deste ano (em alguns casos aliados ao PMDB) para chegar em boa posição em 2018. A Temer compete alcançar o final deste conturbado mandato presidencial.
Governo interino sempre enfrenta dificuldades. Precisa agir rapidamente para exonerar personagens óbvios. E cautela para medir as consequências de seus atos. Se o impeachment, em meados de setembro, for confirmado, tudo mudará de figura. Mas os protagonistas deste interinato são pessoas experimentadas, vividas e com larga experiência. São profissionais da política.