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Cristiano Noronha: Análise sem fígado

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Lula será eleito no primeiro turno”, disse o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto em entrevista para a revista Veja no último dia 26. A avaliação é precipitada. Vejamos alguns exemplos de como o andamento das intenções de voto pode surpreender tomando por base as últimas eleições presidenciais no País.

Em 2002, Roseana Sarney, filiada ao PFL (hoje DEM), vencia o ex-presidente Lula (PT) nas simulações de segundo turno. A divulgação de uma operação da Polícia Federal no Maranhão atingindo empresas ligadas a então governadora, com foto do dinheiro apreendido, fulminou suas chances na disputa.

No mesmo ano, veio a onda Ciro Gomes. Em julho, Ciro, filiado ao PPS (hoje está no PDT), era quem estava mais bem posicionado na disputa do 2º turno. Vencia Lula. O candidato criou uma situação constrangedora durante entrevista em São Paulo, em agosto, ao dizer que a importância de sua mulher, na época a atriz Patrícia Pillar, na campanha residia no fato de “dormir” com ele. Despencou. Como sabemos, Lula venceu a eleição.

Em 2005, Lula e o PT foram duramente abatidos pelo escândalo do mensalão. Naquele ano, o partido perdia uma de suas mais importantes bandeiras: o combate à corrupção. Em agosto de 2005, de acordo com o Datafolha, Geraldo Alckmin (PSDB) aparecia com 48% das intenções de voto no 2º turno e Lula com 39%. Pelo Ibope, era 48% contra 35%. No ano seguinte, Lula foi reeleito. Em 2010, a candidata Dilma Rousseff (PT) só apareceu na frente de seu principal oponente, José Serra (PSDB), em abril. Até então, estava atrás do candidato tucano. Sem nunca ter disputado uma eleição, mas contando com a grande popularidade de Lula, Dilma foi eleita no 2º turno. Lula nunca venceu uma eleição em 1º turno. Nem quando disputou diretamente nem quando apoiou um candidato. Em 2010, quando sua popularidade bateu a marca de 77% de “ótimo/bom”, viu sua candidata ter que enfrentar um segundo turno.

O crescimento de 1,2% do PIB do primeiro trimestre deste ano surpreendeu o mercado. Muitos refizeram suas projeções e agora falam em crescimento acima de 5%. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, em entrevista a O Globo, afirmou que pode chegar a 6%. E para 2022, ano da eleição presidencial, ele prevê crescimento de 3%, o que vai começar a mexer no emprego, o último indicador a reagir. Economia tem um peso forte na sucessão. No que pese a distância para o pleito de 2022, a tendência indica que Bolsonaro e Lula devem disputar o 2º turno. No Brasil, desde 1994, ou o presidente venceu ou colocou seu candidato no 2º turno. Em 2022, não deve ser diferente. O peso do governo federal é muito grande. Como recomendou Luiz Carlos Mendonça de Barros, é preciso retirar o fígado da análise.

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Este artigo foi publicado, originalmente, na Revista Istoé

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