O ano de 2016, que termina hoje, ofereceu as mais diversas visões do desastre político e econômico. Os brasileiros da escola de Macunaíma devem estar orgulhosos. O país produziu o maior escândalo de corrupção já verificado, catalogado e descoberto em qualquer outro ponto do planeta.
Mais uma vez o mundo se curva diante do gigantismo verde e amarelo. Ninguém segura o Brasil. No plano das coisas práticas, além da vergonha nacional, as diversas investigações fizeram vir à tona um gigantesco iceberg de corrupção.
A atuação da Odebrecht é realmente notável. A empresa, com rigor e objetividade, soube entrar nos governos de vários países latino-americanos e africanos. Produzir obras – no capítulo da engenharia a empresa baiana é conhecida por cumprir prazos e entregar o que promete – e distribuir propinas com a maior seletividade.
E chegou ao ponto de criar um departamento para realizar o pagamento certo à pessoa necessária. Está recebendo formalmente agora o troco. Sete países já anunciaram que vão tomar medidas contra a empreiteira.
Os países são México, Peru, Argentina, Colômbia, Equador e Venezuela. Essa lista não é importante. A empresa já pagou a quem poderia influenciar as decisões em seu próprio benefício. O crime já aconteceu. No Panamá, ao contrário, o governo decidiu não colaborar com as investigações. Elas poderiam alcançar o ex-presidente.
Impressiona é a organização da empresa baiana que montou estruturas em Portugal, Holanda, Áustria e Antígua para lavar dinheiro destinado justamente a seus apaniguados. Coisa de profissional. Naturalmente, os bancos, grandes ou pequenos, fizeram a sua parte nesta operação. Receberam pelo trabalho e se mantiveram silentes.
O sistema financeiro está no meio dessa gigantesca operação, que virou uma síntese do Brasil. A atuação da Odebrecht demonstra que há competência profissional no Brasil, gente qualificada e capaz. Também demonstra que o empresário brasileiro é audacioso. Promete e entrega o combinado.
No meio do caminho há propina que não é exclusividade nacional. É o agrado necessário. Os recursos apareceram e as obras explodiram em países da América Central e do Sul. Também em Angola e Moçambique, na África.
Trata-se de um exército poderoso, habilidoso e potencialmente perigoso. Capaz de desestabilizar governos. O caso do Equador é curioso porque a empresa foi expulsa do país por determinação do presidente da República. Dois anos depois retornou sem comemorações à sua antiga posição. Parece que a questão era somente de ajustar percentuais e beneficiários.
A Odebrecht construiu o metrô de Miami, mas lá não operou à sua maneira. Trabalhou by the book. Foi descoberta, no entanto, quando seus diretores utilizaram bancos norte-americanos para fazer suas transações.
Havia uma engrenagem perfeitamente azeitada em pleno funcionamento com tentáculos em diversos países na Europa, na África e nas Américas. Isso começou dentro do Brasil, quando os petistas perceberam que precisariam de muito dinheiro para manter sua maioria no Congresso Nacional. E mais ainda para realizar campanhas eleitorais capazes de vencer a oposição.
Eventuais sobras foram encaminhadas para os políticos mais poderosos dentro das legendas. Foi uma festa. As duas estruturas se encontraram e produziram o Brasil dos últimos doze anos. O que os brasileiros percebem hoje é o resultado da atuação sistemática de organizações poderosas.
Os governos petistas, com a sua política desenvolvimentista, a chamada nova matriz econômica, quebraram o país. Jogaram a Petrobras numa situação lamentável. Era a segunda maior empresa do mundo, em maio de 2008 (US$ 309 bilhões). Em janeiro de 2016, estava no 249º lugar entre as maiores do mundo (US$ 17.834 bilhões).
Incentivaram os governadores a gastar mais e forçar a elevação do consumo. O resultado está diante de todos: salários atrasadíssimos e o décimo terceiro que passou a ser vaga promessa. O Brasil perdeu tempo ouvindo platitudes de Dilma Rousseff e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O desemprego alcança cerca de 12 milhões de pessoas em condições de trabalhar. É um desastre de proporções bíblicas. E não há remédio que produza a reversão em curto prazo. Os governos de esquerda, na América Latina, curiosamente seguiram o mesmo caminho: todos estão com graves problemas de caixa.
A Argentina, por exemplo, vive uma recessão abissal. Aqui parece que o pesadelo está perto do fim. Há alguma chance de recuperação. O Brasil não vai acabar. E a nova geração trará novas e melhores ideias. Feliz 2017.
Publicado no Correio Braziliense em 31/12/2016