Carlos Eduardo Bellini Borenstein Desde o início da gestão Lula 3, o PT tem adotado uma
postura mais barulhenta do que nos governos
anteriores do partido. Embora seja a legenda do
presidente, o PT tem procurado realizar uma pressão
pela esquerda sobre Lula. Por trás desse movimento
está o objetivo de agradar à militância petista e
estabelecer uma diferenciação, ainda que tímida, entre
governo e partido.
Durante a montagem de seu ministério, Lula acabou
deixando de fora da Esplanada dos Ministérios a
presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi
Hoffmann (PT-PR). Fiel aliada de Lula, Gleisi, que é uma
liderança de esquerda bastante combativa, continuou
na presidência nacional do PT, mobilizando o partido e
pressionando o governo Lula pela esquerda.
Essa pressão é realizada por meio de iniciativas como
os ataques realizados pelo partido à política de juros
instituída pelo Banco Central e o recente movimento de
parlamentares petistas em tornar nulo o impeachment
da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no Congresso,
após o Tribunal Regional Federal da 1ª Região ter
inocentado Dilma no caso das “pedaladas fiscais”, que
motivaram a abertura do impeachment.
Além disso, na semana passada, uma resolução política
aprovada pelo Diretório Nacional do PT sobre as
eleições de 2024 abraçou pautas ortodoxas de
esquerda, como a oposição à proposta de Reforma
Administrativa, e defendeu a taxação de offshores.
Cabe ao PT, ainda, a função de pressionar o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin, que
recentemente votou contra pautas progressistas em
temas como homofobia e transfobia.
Por mais paradoxal que possa parecer, a pressão
exercida pelo PT, apesar de gerar ruídos na relação do
governo com sua complexa e heterogênea base aliada,
é do interesse de Lula, pois reforça o compromisso do
partido com sua base tradicional. Mas essa maior
pressão exercida pelo PT não significa que Lula cederá
aos pleitos do partido, já que a correlação de forças em
Brasília é desfavorável a uma guinada à esquerda.