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ENTREVISTA com ANDRÉ LAJST

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Qual é a sua opinião acerca do relacionamento comercial que está surgindo atualmente entre Brasil e Israel?

ANDRÉ LAJST: Muito positiva. Israel é o país que mais investe em inovação no mundo. Há muitas soluções para os problemas mundiais em Israel e sem duvida o Brasil poderá se beneficiar dessa aproximação comercial. O nordeste brasileiro poderá ter em poucos anos, uma usina de dessalinização de água em quantidades suficientes para acabar com a seca.

Como o presidente Bolsonaro influencia no cenário político internacional, na visão de Israel?

ANDRÉ LAJST: Israel vê o Brasil como uma potência emergente pelo tamanho do país, população e economia. As votações na ONU são uma fonte de tensão entre Israel e a comunidade internacional, que frequentemente condena Israel mais do que todos os outros países juntos. A mudança do voto do Brasil na ONU para um voto mais equilibrado em relação ao conflito israelense-palestino é visto em Israel como algo muito positivo e, além disso, serve de exemplo para outros países da América Latina, que veem o Brasil como líder da região.

Os incêndios na Amazônia estão fazendo com que o presidente Bolsonaro esteja sendo acusado de ecocídio e já há pedido para levá-lo ao Tribunal de Haia. Qual a visão de Israel sobre esse assunto?

ANDRÉ LAJST: Após a eleição de Bolsonaro para a presidência, Israel e Brasil se aproximaram. Seguindo coerentemente com isso, o Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, enquanto lideres mundiais criticavam o governo brasileiro, se limitou a enviar ajuda especializada para combater os focos de incêndio na Amazônia. Essa atitude é do governo israelense. Já a visão de Israel sobre esse assunto é mais ampla, pois abrange uma gama diferente de opiniões. Um exemplo disso, na imprensa israelense houve criticas ao governo de Israel por não ter expressado preocupação pela destruição da floresta.

Gleen Greenwald é uma das pessoas mais visadas na mídia brasileira hoje em dia, por conta de seu envolvimento com o vazamento ilegal de conversas entre os procuradores da Lava-Jato, mas o passado o condena. O que você poderia dizer sobre a atuação de Greenwald enquanto advogado e autointitulado jornalista?

ANDRÉ LAJST: Como Cientista Politico especializado em Oriente Médio, já li e acompanhei muitas publicações e opiniões da Gleen Greenwald sobre Israel. Posso falar que elas são tendenciosas e equivocadas.

O relacionamento entre Israel e a Faixa de Gaza sempre foi bem conflituoso, mas a mídia internacional tende a atacar mais um lado do que o outro. Seria possível realizar mudanças nesse cenário?

ANDRÉ LAJST: Existe em Israel a terceira maior concentração de jornalistas estrangeiros do mundo. Na Faixa de Gaza, especificamente, existem diversos jornalistas palestinos contratados pelas principais agencias de noticias como Reuters, AP, AFP, Al Jazeera e BBC. Como Gaza está sob domínio do Hamas, é sabido que não há liberdade de imprensa e os jornalistas que trabalham para essas agencias são constantemente ameaçados ou coagidos a divulgarem matérias e dados de forma a colocar Israel como o culpado de absolutamente tudo que ocorre de ruim na região. Note que, mesmo organizações internacionais como a Cruz Vermelha, que servem de fonte para jornalistas, têm dificuldade em verificar e transmitir dados aos jornalistas, porque o o Ministério da Saúde, o IML e outras instituições governamentais são controladas pelo Hamas.

A única forma de mudar esse cenário seria ou o fim do governo totalitário do Hamas em Gaza e por consequência a conquista da liberdade de imprensa ou os principais veículos de comunicação e mídia do mundo cessarem de publicar matérias, cujas fontes são provenientes da Faixa de Gaza.

Israel tem direito a “dar pitaco” na resolução dos conflitos intra-islâmicos?

ANDRÉ LAJST: Israel não opina sobre conflitos civis que ocorrem no Oriente Médio de forma a escolher lados ou atores. Ao mesmo tempo, o governo de Israel e a sociedade israelense tendem a prestar solidariedade aos povos vizinhos que foram assolados por guerras religiosas. Nesse sentido, Israel já enviou toneladas de ajuda humanitária para a Síria e até abriu um hospital de campanha que atendeu milhares de civis sírios feridos na guerra.

Recentemente o senhor teve uma palestra na Universidade do Pernambuco cancelada por conta de ameaças de grupo pró-árabes. O Brasil está se tornando um país muçulmano ou dizer isso é alarmismo?

ANDRÉ LAJST: É alarmismo. Tampouco acho que a sociedade árabe ou muçulmana em geral é essencialmente radical. Porém, há no Brasil diversas organizações terroristas islâmicas radicais que, pelo fato de o país não ter feito uma lista de quais organizações considera como terrorista, beneficiam-se para andar livremente em todo território nacional.

Dito isso, além dessas organizações, existem grupos e núcleos de pessoas radicalizadas em relação as suas opiniões politicas dos mais diversos assuntos. No caso específico de Recife, um grupo chamado Aliança Palestina – Recife, formado nas mídias sociais, frequentemente publica noticias falsas e radicais sobre Israel, criando ódio e descriminação ao país, bem como aos judeus. Foram membros desse grupo que ameaçaram a Universidade e o professor que nos convidou para a palestra, conseguindo o cancelamento do evento.

Israel é a 32ª maior potência global, com PIB de quase US$ 370 bilhões, de acordo com dados recentes do FMI. Qual é o segredo de Israel para o sucesso?

ANDRÉ LAJST: Israel foi constituído por judeus imigrantes e judeus que já moravam na região com o objetivo de construir uma sociedade igualitária, justa e com forte avanço em educação. Durante muitas décadas, Israel foi um país socialista com muitas empresas estatais. As ameaças existenciais contra Israel ao longo de sua história criaram nos cidadãos um forte senso de sobrevivência. O país foi obrigado aconstruir um sistema de defesa amplo, complexo e autossuficiente. Neste sentido, Israel desenvolvia muita tecnologia militar para sempre estar alguns passos a frente dos seus vizinhos, até então, hostis. Na década de 1990 e e início dos anos 2000, após Israel passar por hiper-inflação, modernizar sua economia e abrir para investimentos externos, o país viu um crescimento surpreendente. Decidiram então investir 4% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, e o resultado disso é o maior polo de inovação do planeta, com 8800 empresas de alta tecnologia. Todos os anos, 1000 novas empresas de inovação são abertas. Esse número impressionante atraiu bilhões de dólares de investimentos estrangeiros. Assim, Israel enriqueceu, melhorou seu investimento militar, transformou-se em um país muito poderoso no que diz respeito à inteligência. Todos esses fatores juntos colocam Israel como o oitavo país mais poderoso do mundo e a 32ª economia do planeta.

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