A relação entre os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) reapareceu na agenda da pré-campanha. Ainda que a lembrança positiva do legado de Lula junto a uma parcela da população seja um atributo de imagem positivo do ex-presidente, as recordações negativas da gestão Dilma, sobretudo na economia, serão um desafio para o PT.
Recentemente, surgiu na imprensa a informação de que, num encontro ocorrido entre Lula e Dilma, a ex-presidente teria se mostrado contrária à aliança que está sendo costurada entre o PT e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para alçá-lo a vice de Lula. Dilma também teria dito que não se calará quando criticada na campanha.
Por enquanto, Lula adota a postura de, ao mesmo tempo, defender e se afastar de Dilma. Na semana passada, em entrevista concedida à Super Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, Lula afirmou: “Tenho orgulho da Dilma. Em dezembro de 2014, no fim do primeiro mandato da Dilma, o Brasil só tinha 4% de desemprego. A Dilma todo ano, como eu fazia, aumentou o salário mínimo. Agora, como é que nós estamos vivendo? No meu tempo, 90% dos acordos salariais eram feitos com ganhos acima da inflação. Hoje, quase que 80% são feitos com os trabalhadores não ganhando sequer da inflação.”
Por outro lado, Lula também demarcou uma distância em relação à ex-presidente. Perguntado na entrevista se Dilma poderia ser sua vice, ele respondeu que “numa campanha política você precisa saber que a solução para os problemas do Brasil não passa por um único partido, passa pelo conjunto das forças políticas que existem no país. Eu não tenho interesse em ser candidato apenas do PT, tenho interesse em ser candidato do movimento da sociedade que busca melhorar a vida do povo brasileiro”.
Apesar da narrativa parcialmente otimista de Lula, o legado de Dilma é um obstáculo que o ex-presidente precisará enfrentar. Embora o governo Dilma esteja num plano secundário da agenda, já que o centro do debate eleitoral é o governo Bolsonaro, Lula deve se afastar da ex-presidente.
Não por acaso ele descartou a participação dela num eventual governo seu. Os ex-ministros José Dirceu e Guido Mantega também já anunciaram que não terão cargos no governo de Lula caso ele saia vitorioso das eleições em outubro.
Ao trazer o legado do lulismo para agenda com objetivo de ativar perante o eleitorado a lembrança positiva da Era Lula na economia, o PT também acaba trazendo o governo Dilma para o debate.
Por conta disso, a cúpula do PT resolveu se antecipar ao “problema Dilma” e abordar na pré-campanha o assunto antes que seus adversários o façam. Geralmente quando isso ocorre é porque as pesquisas internas, principalmente as qualitativas, que medem a profundidade que um determinado tema pode beneficiar ou prejudicar uma candidatura, apontado algum impacto na imagem de Lula.
Segundo a Folha, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega prepara um documento em que defenderá o legado dos governos petistas ao mesmo tempo em que reconhecerá seus erros. Mantega tentará demonstrar que “não foram os governos do PT que quebraram o Brasil”.
De acordo com Mantega, haverá uma comparação dos governos desenvolvimentistas de Lula e Dilma com o que chamam de governos neoliberais, numa referência a Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Através de uma postagem no Twitter no último sábado (5), Dilma Rousseff também se manifestou. Ela declarou que sua relação com Lula é “inabalável” e descartou disputar qualquer cargo nas eleições deste ano. Dilma também afirmou que “não se sente isolada no PT”. Disse ainda que não tem “porta-vozes na grande imprensa” para falar em seu nome.
Mesmo com os esforços que Lula, Dilma e o PT planejem fazer para tentar esgotar o debate em torno do governo Dilma, dificilmente esse assunto se esgotará, conforme desejam os petistas. Como, ao contrário de 2018, a economia será o tema principal da agenda eleitoral, a gestão econômica ruim de Dilma e Mantega, principalmente a partir de 2015, quando a crise não apenas econômica, mas também política se intensificou, será trazido para agenda pelos adversários de Lula.
Assim, ao debater o governo Dilma, os demais pré-candidatos tentarão convencer a opinião pública de que Lula foi também o responsável pelo cenário de recessão deixado por Dilma por ter sido o responsável pela escolha da ex-presidente como sua sucessora.