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Perse: presidente da Abrafesta defende maior diálogo do setor com a Fazenda

Ricardo Dias, presidente da Abrafesta, também falou dos projetos para formalizar o setor com o Ministério do Empreendedorismo, Micro Empresa e Empresa de Pequeno Porte

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Economia

Em meio às discussões sobre o Programa Emergencial para Retomada do Setor de Eventos (Perse), o Brasilianista conversou com o presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), Ricardo Dias, sobre o posicionamento do setor em relação às mudanças propostas no programa. 

Presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), Ricardo Dias

Foto: Divulgação/LinkedIn

Empresário, Ricardo Dias preside a Abrafesta desde 2015. Foi responsável por criar a plataforma staffPRO, que simplifica e profissionaliza a gestão de mão de obra para eventos, conectando empresas e profissionais de forma eficiente e segura. Dias acumula vasta experiência no setor de eventos, sendo um dos principais interlocutores no diálogo com o governo sobre as necessidades do segmento.

O projeto de lei, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados, deve ser votado nesta terça-feira (23) no Plenário da Casa. No entanto, a proposta ainda gera controvérsias no setor devido às atividades econômicas que não são mais contempladas pelo projeto. Além disso, dos prejuízos que uma ruptura do programa iria causar ao planejamento financeiro das empresas. 

Na entrevista, Dias abordou aspectos como: uma aproximação amigável com o Ministério da Fazenda para explicar como o setor funciona; a formalização do setor, que avança com diálogos com o ministro Márcio França; e sobre as principais dificuldades na retomada do setor, após o período da pandemia da COVID-19. 

Confira a entrevista: 

Luísa Rothenburg: Agora, temos essa medida despachada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que em tese o Perse é interrompido por agora. Em teoria, de acordo com o que foi decidido, vocês já voltam a pagar os impostos e serem reonerados dessa forma. Isso gera um prejuízo a curto prazo. Como está esse impacto para vocês com essa decisão de agora?

Ricardo Dias: Ninguém sabe o que a gente sofreu. Eu estava falando com um associado, a pandemia começou no dia 12 de março, ele estava montando um estande e eu falei “Desmonta, porque não vei ter mais”, então, quem vai pagar? Quem vai fazer? Assim, eu acho que a gente entrou em uma situação de colapso tão grande. E nós, como entidade de que representa as empresas que prestam serviços, a gente representa a graxa, porque são as nossas empresas, que têm de todos os regimes tributários, que contratam os profissionais de eventos.

Então, eu acho que o Perse foi uma medida para salvar as empresas, visando a empregabilidade do país e a economia. Então, quanto mais a gente conseguir distribuir renda, mais rápido a gente vai sair dessa situação de juros que está acontecendo, SELIC e etc. Acho que se a gente for falar de país, o setor de turismo emprega 15%. 

Retomada do setor de eventos e Perse

LR: Dizem muito que o setor foi o primeiro a parar e o último a voltar. Como foi a retomada para vocês? Como o setor está com as decisões que estão sendo discutidas em torno ao Perse no Congresso?

RD: Todo mundo fala “o primeiro a parar e o último a voltar”, eu vou só fazer uma correção aí. Quando a gente abriu o setor em novembro de 2021, ninguém queria fazer eventos, porque era aglomeração. O carnaval de 2022 trouxe problemas. Nenhuma empresa queria fazer uma ativação, então ficamos muito mais que dois anos parados. A mão de obra sumiu. Todos esses [são] freelancers. Nosso setor tem por volta de 10 milhões invisíveis por falta de legislação. Contratam muito mais por via freelancer e esses caras não são contabilizados.

Então, todo o movimento da cadeia contratam as empresas prestadoras de serviço, acho que isso é uma situação bem complicada pra gente. Continuamos com essa demanda. O Perse ajudou a fazer o pagamento dos impostos, parcelamentos, o Pronamp, dentro do Perse existia o cancelamento e adiamento de eventos,  a devolução do dinheiro para os clientes. E, depois disso, a gente tem aquela situação da manutenção dos equipamentos que ficaram parados durante dois anos.

 Todos os empresários gastaram muito dinheiro para colocar a operação de pé de novo. E isso ninguém entende, todo mundo falando em parlamentar, mas não entende como funciona a nossa engenharia do lado de cá. Eu acho que a repercussão é muito grave do que vai acontecer, porque são milhões de pessoas que vão sentir na pele, não só as empresas.

Perse é discutido na Câmara

Foto: Mario Agra / Câmara dos Deputados

Dificuldades do setor

LR: Na teoria, então, o setor abriu em novembro de 2021, mas na prática levou mais tempo até a retomada das atividades, até as pessoas voltarem a ter confiança de ir para um show, para um evento, sem máscara, por exemplo. Então vamos colocar aí dois anos de volta das atividades, quais são as dificuldades que o setor ainda tem apesar das atividades já terem voltado às atividades?

RD: Acho que a máscara é o pilar do negócio, de quando terminou. Uma precisamos fazer também quem fechou o evento em 2019 ou, 2020 no comecinho, fez o evento de 2022, 2023 e 2024. 2024 menos, mas 2023 bastante. Os valores que foram fechados e acordados eram outros. Então, o custo de tudo foi muito mais caro, do óleo diesel, dos insumos da carne, da mão de obra. Acho que as pessoas tem que levantar também.

LR: E isso reverbera até hoje?

RD: Sim, toda hora. E a gente não consegue repassar, porque senão, o cara pensa “Eu vou fechar um evento e com essa conta, com esse valor, que eu vou pagar até o boleto”. O cara está ali medindo as coisas “no osso”. Uma coisa que a gente também tem que falar é que as empresas do lucro presumido e do lucro real contratam as empresas do Simples Nacional e do MEI, então acho que o [argumento] “ah, mas só serve para quem é presumido” não é verdade total, porque o grande evento, uma feira, um show, um casamento, um congresso, eles são os que movimentam a cadeia. Sem o evento, não vão as pessoas. Imagina quanto o evento traz de economia pro turismo em um todo.

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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Mudanças no Perse

LR: Sobre o projeto de lei, o que senhor acredita que está bom? E o que você acha que deveria mudar?

RD: Eu acho que o que nós teríamos que ter é uma situação de diálogo maior com o governo para eles entenderem quais são os CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) que de fato empregam. O Perse é para isso. O Perse é para distribuição de renda, economia, ativar economia do país. Então, eu acho que tem que ter um diálogo [que mostre], o buffet que está fora, o buffet tem que estar dentro, porque ele é o que mais o que mais emprega, garçom, bartender, tudo.

Aí depois a gente tem toda parte dos locadores, que caiu da antiga, como é que você tem um evento sem mesa, sem cadeira, sem prato, sem colher, faz parte do locação. Quem é que carrega as mesas? Os carregadores.  Quem é que movimenta? São os técnicos de sons, os técnicos de luz. Então, assim, a gente está se equivocando, a gente só tá falando de projeto de lei, mas a gente não está discutindo o que vai chegar na ponta. Eu acho que tem uma distorção que a gente tem que colocar aqui em pauta, porque é esse movimento, são esses CNAEs que geram a economia e é maravilhosa. 

Diálogos com o Ministério do Empreendedorismo, Micro Empresa e Empresa de Pequeno Porte

LR: Quais diálogos vocês têm feito com o governo?

RD: A gente não tem uma legislação específica para o segmento. Então, o certo seria a gente tem um MEI para eventos, que é uma discussão que a gente já está tendo com Márcio França (Ministro de Estado do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) bem evoluída. Aqui no Brasil, as empresas observam os grandes shows, Rock in Rio, o Lollapalooza, o The Town, Tomorrowland, o Atlântida. Só olham isso. É uma situação muito midiática, tá? Vamos lá.

Quantos casamentos nós realizamos por ano? Um milhão. São 52 segmentos dentro de um casamento, quantas pessoas são empregadas dentro desse mercado, que é um mercado discreto? Você não tá sabendo que teve uma festa de 15 anos que o cara gastou 40 milhões de reais. Entre todos os artistas, 50% da receita são dos eventos sociais. É uma grande carteira. A quantidade de pessoas que estão sendo empregadas para isso é muito grande.

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Conseguimos aqui uma reunião com o Márcio França no dia 24 para incluir o garçom dentro do MEI e contratar esse garçom direto. Quantos bilhões a gente vai gerar com essa turma? Se estamos falando de dez milhões de invisíveis, a gente tá falando de 9 bilhões e de 1.200 de MEIs. Isso é uma economia, né? Você vai trazer a turma para formalidade, vai se dar vai dar dignidade para essas pessoas que são invisíveis, que existem a terceirização, quarteirização, quinteirização e trabalho análogo. Todo mundo fala em ESG, mas todo mundo esquece isso aqui. G é governança, governança é emissão de nota fiscal, é um tributo e ninguém enxergou isso ainda. É uma grande solução para o setor. 

Conversas com o Turismo

LR: E há negociações com outras pastas?

RD: Negociações com o Turismo. O Turismo não enxerga o setor de eventos. Muito pouco. Eu faço parte do Conselho aqui do Estado de São Paulo, agora faz parte do desconto agora faço parte do conselho Federal e eles não têm esse conhecimento de como funciona essa engrenagem da base. Primeiro, a gente precisa de uma capacitação muito mais especializada, porque é um garçom –  eu estou falando de garçom, porque a gente tem muito buffet – de restaurante não tem a especialidade de fazer um casamento, um corporativo, a dinâmica de um restaurante é diferente. Existem prazos dentro de um evento, tem uma dinâmica.

Então, se formos falar um pouco de capacitação, eles não têm ideia de como funciona. “Ah não, as entidades, o Senac, o Senai”, quem sabe fazer evento somos nós.  O cara vem e monta um ar condicionado em cima do do buffet, aí esfria toda a comida, e aí vem o cliente e reclama “Pô, a comida está fria”, e aí vem a capacitação do cara da instalação do ar condicionado, em uma formatura, por exemplo. Enfim, essa engenharia, esse conhecimento dessa dinâmica profunda, é a gente que sabe fazer. Quem tem que dar aula somos nós, então a gente capacita essa turma, ela evolui de uma forma e a gente tem uma prestação de serviço enorme.

Gramado é isso. Gramado está tendo um polo turístico gigantesco. Quer dizer, qual a diferença de Gramado para outra cidade do país? Por que não tem assalto? Por que a economia é boa? É turismo. Turismo traz a economia saudável para o país em todos os sentidos.

 O setor de eventos e o Ministério da Fazenda

LR: Realmente, faz muito sentido. Eu estava na audiência do Perse e umas das coisas que foi mais apontada é essa ausência de diálogo com o Ministério da Fazenda. Nesses termos financeiros e de apresentar propostas para ter esse meio e essa troca mais fluida.  Com a Fazenda, vocês estão dialogando ou não?

RD: Não. 

LR: É um dos principais gargalos?

RD: Eu acho que a gente precisa se aproximar à Fazenda de forma amigável, mostrando que temos muitas empresas super profissionais, empresas que pensam no ESG de fato. A gente entende que o ESG foi modificado ao longo dos anos, mas tem muita empresa que quer fazer a coisa direito, que quer entregar entregar, que pensa nas pessoas. Tem empresas muito sérias, a gente precisa valorizar essas empresas e gerar um espelho para as empresas que estão começando, né? Eu acho que essa é a parte do empreendedorismo. É a gente facilitar alguma coisa ou a gente até ensinar como é que faz, para você ajudar uma empresa nascer e nascer de forma correta.  Vamos fazer a formação de preço. Vamos fazer os documentos. E aí o cara nasce o cara para ele fazer certinho e é ótimo, a concorrência é saudável. 

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

Pós-Perse

LR: Em relação a tudo o que está acontecendo em torno do Perse, o que vocês tiram de lição para políticas públicas que sejam sustentáveis e específicas para aquilo que vocês precisam? O que vocês acham que dá para tirar de toda essa discussão? 

RD: Eu acho que ele ajudou a gente a ensinar muitas empresas, principalmente da parte contábil. É um setor que é completamente informal e que ele pode muito bem formalizar direito. A gente fatura quanto? R$300 bilhões ou a gente fatura 1 trilhão, né? Se a gente faturar um trilhão, vamos combinar que é um dinheiro absurdo, mas ninguém sabe.  Bom, então a gente pode muito bem ajudar a a fomentar isso e trazer esses números para a realidade. Primeiro, a parte tributária, a parte contábil, ensiná-los a pensar e aí trazer a o governo para falar: “Olha, tem como a gente fazer uma uma situação mais econômica”, porque tem muita gente que bitributa (dois tributos sobre o mesmo fato gerador).

Não é um lucro real. O cara pode fazer uma operação muito mais adequada, ter mais lucro, ter mais saúde para poder ter mais investimento, para poder empregar mais. Então, eu acho que isso faz parte da gente se aproximar do governo para explicar como a gente funciona.

Principalmente, porque acabou o Perse e vai vir o IVA, então por que a gente não participa de um IVA mais específico? Como funcionam os shows, os promotores, os produtores, um casamento, os corporativos? E aí, nós podemos muito bem nos aproximar e fazer um desenho de políticas públicas tributárias para tudo isso. Roda muito mais. Fala com a gente. A gente tem aqui inúmeras soluções para poder fazer um mercado saudável, prosperar e trazer eventos do mundo inteiro. Acho que é isso que a Embratur faz e a gente pode ajudar. 

Diálogo com a política

LR: Como o senhor defende que seja esse diálogo com a política?

RD: Tem que ser mais dinâmico, menos burocrático. Eu sei que tem muita gente que faz espuma por aí, mas a gente está entregando, nós temos as empresas. E as empresas têm sede disso. Estão loucas para prosperar, para investir, para construir e trazer novas tecnologias. O Brasil é incrível, o Brasil é fora da curva.

LR: Tem alguma coisa que o senhor gostaria de acrescentar? 

RD: A gente está discutindo isso de uma situação muito mais humanizada do que qualquer coisa. A gente fala de pessoas. Acho que o Perse são pessoas.

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