A administração centralizada do Brasil exibe vícios e virtudes. O aprofundamento da democracia supõe descentralização e cooperação federativa. Exige decisões concertadas. Se o centralismo é esgrimido como fator importante que garantiu a integridade territorial, hoje é visto como um entrave para o desenvolvimento. Por isso a criação de uma agência de desenvolvimento regional, a Brasil Central, ainda é vista pelo governo federal com um misto de desconfiança e de incremento de despesas.
Mais do que problemas, a Brasil Central exibe com orgulho indicadores que apontam soluções. Afinal os seis estados são responsáveis por 50% da produção nacional de soja e milho, 66% da produção de algodão e 42% de carne bovina ou um terço dos peixes consumidos no país. O desafio é elevar o patamar tecnológico dessa produção aproveitando os centros de excelência sediados na região ou as vantagens, como eixo de distribuição logística.
O desejo de alavancar o desenvolvimento a partir de diagnóstico próprio e da identificação de projetos comuns representa uma mudança em termos de política regional. O modelo tradicional, construído na segunda metade do século passado, tornou-se sinônimo de política de compensações para paliar graves problemas, especialmente na região Nordeste. As instituições criadas nesse impulso foram todas federais e com os anos se tornaram incapazes de debelar os problemas, deixando uma herança: a crença de que é o governo federal o único capaz de aliviar os males da seca ou do subdesenvolvimento.
A novidade representada por uma instituição regional, controlada pelos governos dos estados que a integram e não pelo governo federal, aponta em primeiro lugar para a relevância de ideias em um ambiente carregado pela aparente falta de saídas no meio de uma crise política e econômica. Como diz um dos inspiradores da nova entidade, o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger, de que vale o dinheiro se não sabemos em que gastar. Os governadores do Brasil Central sabem do que precisam e a sua união em torno de um projeto os tornou automaticamente atores políticos relevantes em um cenário marcado pela desconfiança geral que cerca a ação pública.
A Brasil Central já nasceu com um ideário definido: quer alavancar as potencialidades já existentes e abraçar desafios, mas também exibe o otimismo natural de “um Brasil que dá certo”, com novos planos para fazer da educação um dos eixos dessa arrancada, ou de levar adiante inovações na gestão pública, tema que entusiasmou e garantiu a cooperação do empresário Jorge Gerdau e do Movimento Brasil Competitivo.
Além da educação e da gestão pública, a nova entidade pretende superar obstáculos como o enfrentado na infraestrutura logística com perspectivas muito alentadoras, como o oferecimento do governo do Paraguai para desenvolver o Porto de Concepción, distante 219 km de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul. O escoamento de grãos pelo rio Paraguai reduziria os custos e a ineficiência do transporte rumo ao mercado externo.
A união de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Rondônia e Tocantins em torno de objetivos comuns em relação a seu futuro é um atestado de maturidade política que justifica plenamente o pleito dos seus dirigentes no sentido de modificar a legislação com o propósito de gerir diretamente a aplicação dos recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste estimados em R$ 25 bilhões.