Relatórios da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) apontam que o preço do diesel no Brasil está defasado há cinco meses em relação ao valor praticado no mercado internacional. De acordo com a consulta diária da entidade nos polos da Petrobras, o combustível chegou a estar defasado em R$ 0,27 por litro.
A razão da defasagem detectada pela Abicom ocorre por uma mudança na política de preços da Petrobras. A estatal detém a maior parte do mercado de combustíveis no Brasil. A empresa substituiu o antigo Preço de Paridade de Importação (PPI), que alinhava o preço interno com os praticados no mercado internacional, por um conjunto de métricas.
De acordo com a empresa, a partir de agora, as referências de mercado serão o “custo alternativo do cliente”. Além disso, o “valor marginal” para a Petrobras. “O custo alternativo do cliente contempla alternativas de suprimento por fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos”, explica a empresa. Enquanto o “valor marginal” da Petrobras se baseia no custo das diversas alternativas para a empresa, entre elas a produção, importação e exportação do produto.
Para os importadores, a medida gera um impacto negativo, já que não conseguem competir internamente com os preços da Petrobras. Segundo os relatórios da entidade, a defasagem em outros polos é sempre menor que a observada na Petrobras, que viu recentemente seus acionistas aprovarem a distribuição de 50% dos dividendos.
Diesel e a cadeia econômica brasileira
O economista da FGV, especialista em energia, David Zylbertajn, pontua ainda que usar recursos de uma estatal para baratear o combustível fóssil vai na contramão da sustentabilidade. Isso porque a redução no preço da gasolina impede a competitividade do etanol, por exemplo, amplamente produzido e consumido no Brasil.
Além disso, o especialista explica que a Petrobras deixou, deliberadamente, de lucrar com a medida, e que existem outras formas para reduzir a demanda do Brasil por diesel. Dessa forma, ele sugere o investimento em frota de transportes a gás natural e fomento do biodiesel, por exemplo. O diesel é o principal combustível para a cadeia econômica brasileira, considerando que a maior parte do modal no país é rodoviário. Logo, uma alta ou oscilações contundentes no preço do combustível pode afetar toda a cadeia de preços ao consumidor.