A liberação do auxílio emergencial no valor de R$ 600 para os trabalhadores informais – segundo o governo, 2,5 milhões já receberam o recurso em suas contas –, a isenção da tarifa de energia elétrica para os mais pobres e a liberação de R$ 1.045 do FGTS a partir de junho devem contribuir para reduzir o pessimismo da opinião pública em relação à economia no país.
Como consequência, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, hoje em queda, poderá se estabilizar. Apesar das críticas que ele tem recebido ao mostrar preocupação com a economia e a preservação dos empregos em meio ao avanço da pandemia do coronavírus, a ponto de negar a necessidade de isolamento social, a narrativa do presidente se justifica.
Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, 56% dos entrevistados disseram acreditar que a crise provocada pelo novo coronavírus prejudicará a economia por muito tempo. No segmento com renda mensal de até dois salários mínimos, o pessimismo chega a 51%. E no segmento com renda entre dois e cinco salários esse percentual atingiu 58%.
De acordo com a pesquisa, 69% afirmaram que sua renda diminuirá nos próximos meses. Entre os que recebem até dois salários, o percentual negativo foi de 73%. E entre os entrevistados com renda de dois a cinco salários, o índice atingiu 70%.
Ao serem questionados sobre o tempo que levarão para pagar suas contas, caso parem de receber salário, 39% disseram que sua renda deve durar de um a dois meses. Na faixa com renda de até dois salários, 33% afirmaram ter recursos para sobreviver de um a dois meses. No segmento com renda mensal de dois a cinco salários, 50% disseram que podem pagar as contas no máximo por dois meses.
Para o Datafolha, o maior problema econômico concentra-se nas periferias. Nessas comunidades, 80% contaram que vêm tendo perda de renda desde o começo da crise. Nesse segmento, formado em sua maioria por trabalhadores informais, 60% disseram não ter dinheiro para se alimentar por mais uma semana. E 59% revelaram que a qualidade de suas refeições piorou.
Os números trazidos pelo Datafolha justificam a preocupação de Bolsonaro com a chamada “segunda onda” do novo coronavírus, ou seja, o impacto econômico da crise sobre a sociedade. Como a provável recessão econômica deve atingir mais fortemente a classe média baixa, o presidente tem procurado sinalizar para esse contingente do eleitorado. Por isso tem pedido prudência a governadores e prefeitos quanto às medidas de isolamento social, apesar de reconhecer a autonomia dos estados na definição dessas medidas.
No curto prazo, o posicionamento de Bolsonaro traz perda de popularidade, pois o Datafolha mostrou que 76% dos entrevistados defendem que a população deve ficar em casa mesmo que isso traga prejuízos econômicos. Entretanto, quando o presidente mostra preocupação com a economia e o desemprego, pode ganhar pontos entre a opinião pública, no caso de realmente conseguir mitigar os efeitos econômicos negativos pós-pandemia.
Neste momento, porém, o cenário é adverso para Bolsonaro. Além de a opinião pública defender o isolamento social, a decisão da semana passada do Supremo Tribunal Federal (STF) – ao conceder a governadores e prefeitos autonomia para decidir sobre as medidas restritivas – e a popularidade que potenciais adversários políticos vêm conquistando representam derrotas para o presidente.
Não à toa a defesa da hidroxicloroquina como alternativa de tratamento à Covid-19 passou a frequentar o discurso presidencial. Através de relatos positivos de pessoas que foram infectadas e usaram o remédio em seu tratamento, Bolsonaro agendou uma nova narrativa no debate em torno da crise. O objetivo é tentar retomar a mobilização das bases sociais bolsonaristas no curto prazo.