A relação com a Polícia Militar (PM) tende a se tornar um importante desafio para o governador de São Paulo (SP), João Doria (PSDB). Na semana passada, o coronel Aleksander Lacerda foi afastado por Doria da chefia do Comando de Policiamento do Interior-7 (CPI-7), após fazer postagens nas redes sociais criticando o governador, o Supremo Tribunal Federal (STF) e convocar “amigos” para estarem presentes na manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, marcada para 7 de setembro na Avenida Paulista.
Além do caso envolvendo Aleksander Lacerda, militares da reserva têm convocado PMs para a manifestação do dia 7. Esse é o caso do coronel Ricardo Mello Araújo, diretor do Ceagesp, que gravou um vídeo no Instagram convocando veteranos da Rota para a manifestação.
Preocupado com esses episódios, na reunião que teve com governadores, em Brasília (DF), João Doria alertou sobre os riscos da infiltração do bolsonarismo não apenas na PM de SP, mas também nas policiais de outros estados.
Em sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada, Doria disse que a Polícia Civil paulista identificou mobilizações de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais para cercar e invadir o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o Roda Viva, Doria buscou se posicionar como uma alternativa de terceira via para a sucessão presidencial de 2022. Ao mesmo tempo, mirou o eleitor de centro-direita que se desgarrou do bolsonarismo.
João Doria abraçou o liberalismo econômico ao afirmar que “o governo de SP nunca deu calote. Aqui ninguém vai furar o teto. SP fez as reformas e por isso vai fazer mais investimentos. O estado é um verdadeiro canteiro de obras nesse momento”.
Em outro aceno ao eleitor de centro-direita, Doria declarou que “Lula não vai me procurar e eu não vou procurá-lo. Minha opinião sobre ele é clara: Luiz Inácio Lula da Silva assaltou o país”.
O governador buscou também demarcar distância do bolsonarismo ao dizer que “o presidente Jair Bolsonaro é “muito pior” do que foram as administrações dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff”.
E procurou se posicionar como terceira via ao afirmar que “escolhemos o remédio errado para resolvermos o problema histórico do PT. Por isso que nas próximas eleições, nem PT nem Bolsonaro. Nem Lula nem Bolsonaro. Nem horror nem terror. O que o Brasil vai precisar é de um bom gestor, para precificar o país, para criar harmonia e entendimento”.
Apesar da projeção nacional que vem adquirindo, João Doria terá uma difícil prévia pela frente no PSDB. Além dos recentes embates com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) – ambos trocaram fortes críticas publicamente – o governador do Rio Grande do Sul (RS), Eduardo Leite (PSDB), ensaia uma aliança com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Caso haja esse entendimento, Tasso sairia da disputa para apoiar Leite. O mesmo poderá ocorrer com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB), polarizando as prévias tucanas entre João Doria e Eduardo Leite.
Além de vencer as prévias num ambiente interno adverso, Doria precisará evitar que o PSDB saia rachado da disputa. Corre ainda o risco de ver parte do tucanato paulista migrar com o ex-governador Geraldo Alckmin para o PSD. Isso sem falar no desafio de Doria em reduzir sua rejeição em SP para se tornar um presidenciável competitivo.
E reduzir sua rejeição passa, necessariamente, pela retomada da economia, já que as medidas restritivas e a intensa campanha feita pelo presidente Jair Bolsonaro contra João Doria provocaram desgastes na imagem de Doria.
Segundo a pesquisa do Exame/Ideia Big Data divulgada na última sexta-feira (27), o governo João Doria (PSDB) tem uma avaliação positiva (ótimo/bom) de 25%. 31% consideram a gestão Doria regular. E 41% têm uma avaliação negativa (ruim/péssimo).