O governo do Paraná pretende lançar em breve um projeto ferroviário ousado: a Nova Ferroeste, que ligará Maracaju (MS) ao porto de Paranaguá (PR). As estimativas apontam para investimentos de R$ 29,4 bilhões. Para coletar impressões de potenciais investidores e financiadores, o governo paranaense, com apoio do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), promove sondagem de mercado com reuniões individuais em dezembro nos dias 1º, 2, 3, 6 e 7.
Os idealizadores do projeto têm a perspectiva de atrair algum grupo estrangeiro, ou trading, que opere com commodity. A Nova Ferroeste pretende fazer com o Mato Grosso do Sul o que a Rumo (subsidiária da Cosan) faz em São Paulo, ao estender seus trilhos até Rondonópolis, no Mato Grosso. No caso, a Ferroeste quer chegar a Lucas do Rio Verde, grande produtor de grãos que fica no centro do estado matogrossense.
Já foram concluídos os estudos de viabilidade que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, anunciou há dois anos. As conclusões indicam taxa interna de retorno de 11% e prazo de retorno do investimento de 17 anos em um contrato de 70 anos. A Ferroeste já opera uma concessão no Paraná, entre Guarapuava e Cascavel, mas trata-se de ferrovia limitada em bitola métrica.
O projeto prevê total remodelação da malha, a fim de que ela seja operada pelo setor privado, ficando com 1.304 quilômetros de Maracaju (MS) a Paranaguá (PR), com um ramal até Foz do Iguaçu (PR). Há ainda o plano de se criar outro ramal, com 286 quilômetros, de Cascavel (PR) até Chapecó (SC). O pedido foi apresentado ao Ministério da Infraestrutura de acordo com as regras estabelecidas pela MP nº 1.065/21.
Mas há dúvidas no mercado em relação ao projeto. Especialistas argumentam que ainda não foi aprovada uma legislação que garanta segurança jurídica ao investidor. A MP nº 1.065 está parada no Congresso; e o PL nº 3.754/21, que trata do mesmo assunto, teve a indicação do relator na Comissão Especial da Câmara anunciada na semana passada. O deputado mineiro Zé Vitor (PL) promete apresentar seu parecer no início do próximo mês diretamente no plenário. O projeto já foi aprovado no Senado, mas, se sofrer alterações na Câmara, voltará a ser analisado pelos senadores.
Para o ex-diretor-geral da ANTT Bernardo Figueiredo, a Nova Ferroeste é um bom projeto. Mas dificilmente será implementada sem apoio público. “É uma ligação necessária, que faz o maior sentido econômico. Minha dúvida é se fica em pé como investimento puramente privado.” Ele observa que há outro desafio: a obra de descida da serra até o porto de Paranaguá. “É um investimento pesado, de risco. Precisaria de alguma participação pública.”