O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou ontem o anúncio de seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, como sugestão para ser indicado por Lula para diretoria do Banco Central. Galípolo precisará se equilibrar entre a autonomia legal do BC e a missão creditada a ele de abrir caminho para o corte da Selic — um apelo do presidente ecoado por membros do governo e por quadros do PT desde o início da gestão.
Galípolo foi escolhido para assumir a diretoria de Política Monetária, uma das mais importantes da autarquia depois da presidência. Além de Galípolo, Haddad também confirmou a indicação de Ailton de Aquino Santos, servidor de carreira do BC, para comandar a área de Fiscalização. Será o primeiro negro indicado para o cargo.
Caso confirmadas pelo Senado, as indicações – as primeiras do governo de Lula – vão levar para o Comitê de Política Monetária (Copom) nomes que tendem a favorecer uma queda mais rápida da taxa básica de juro, a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
A ida de Galípolo para o BC ocorre num momento de pressão pela redução dos juros sobre Roberto Campos Neto, presidente do banco indicado pela gestão Bolsonaro e com mandato até 31 de dezembro de 2024.
Haddad afirmou que a primeira pessoa que mencionou o nome de Galípolo como possibilidade de indicação para o BC foi Campos Neto. A ida de Galípolo para o BC faz parte de um movimento do governo de mudar a autarquia por dentro. A indicação ocorre quando a pressão pela redução da Selic confronta a liderança de Roberto Campos Neto.
O Copom tem nove membros com direito a voto, sendo presidido pelo chefe do BC, que tem o voto de qualidade. Ailton de Aquino, que já foi auditor-chefe da autarquia, é bem avaliado, conhecido por posições técnicas, internamente.
Cautela
Analistas receberam com cautela o anúncio feito por Fernando Haddad de que o advogado Dario Durigan será o novo secretário-executivo do ministério. Para Sergio Vale, a chegada de Durigan deixa o ministério carente de nome de peso para formular políticas.
“Às vezes parece mais Ministério da Justiça do que da Economia”, diz. Lembrou que Haddad também é formado em direito. “Mas, de certa forma, está na linha do governo de buscar todas as fontes possíveis de arrecadação. E achar buracos legais no que se faz hoje está mais para advogados do que economistas”.