Em sua primeira viagem internacional neste mandato, presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem (segunda-feira), em Buenos Aires que o BNDES voltará a financiar projetos de empresas brasileiras no exterior e vai ajudar “países vizinhos a crescer”.
Lula tomou como exemplo o projeto de um gasoduto entre a Patagônia e a fronteira com o Rio Grande do Sul e afirmou que tinha orgulho de quando o BNDES financiava empreendimentos na América Latina e em países africanos.
Esses financiamentos estiveram no centro de escândalos envolvendo empreiteiras. Desde fins da década de 1990, o banco liberou US$ 10,5 bilhões para 86 obras de construtoras brasileiras em quines países da América Latina e da África.
Os financiamentos feitos pelo BNDES a obras em outros países foram suspensos em 2016 no governo Michel Temer (MDB). “O BNDES vai voltar a financiar as relações comerciais do Brasil e vai voltar a financiar projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior. E para ajudar que países vizinhos possam crescer e até vender o resultado desse enriquecimento para países como Brasil”, disse Lula.
“O Brasil parou de compartilhar a possibilidade de crescimento com outros países. Porque é isso que os países maiores têm de fazer, tentando auxiliar os países que têm menos condição em determinado momento histórico”. Para o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, a indústria brasileira será uma das principais beneficiárias da medida anunciada pelo governo.
A ideia do governo brasileiro de dar garantias às operações de financiamento dos importadores argentinos. Nos últimos anos, o Brasil vem perdendo mercado para China, que hoje já é o maior exportador para o país, com participação de 21,5%. O Brasil ocupa agora a segunda posição, com 19,7%, segundo dados de comércio exterior do Ministério da Economia da Argentina.
Ontem, em Buenos Aires, Brasil e Argentina assinaram memorando de entendimento para criação de uma moeda comum virtual para facilitar as trocas comerciais entre os dois países. O anúncio foi feito pelos presidentes Lula e Alberto Fernández, em um comunicado conjunto.
O memorando foi firmado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa. O plano prevê grupo de trabalho para discutir a viabilidade de uma unidade comum de troca, já que o peso argentino é visto como entrave para avançar o comércio bilateral. A nova moeda será digital, sem uso corrente entre as populações.
Mercosul na pauta
Lula desembarca nesta quarta (25) no Uruguai com a tarefa de tentar evitar uma espécie de desmonte do Mercosul. O tema consta da pauta da reunião bilateral com o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, que tem negociado um acordo unilateral com a China com potencial para implodir o bloco econômico sul-americano criado em 1991.
Lula deve recorrer à diplomacia para tentar evitar que os uruguaios fechem um acordo de livre-comércio com os chineses, como busca Pequim há algum tempo. Para isso, a ideia é acenar com possíveis concessões na área comercial, como forma de dissuadir o país vizinho dessa aproximação.