O pragmatismo na política é uma abordagem orientada para resultados, focada em soluções práticas e realistas para problemas complexos. Políticos pragmáticos são geralmente caracterizados pela flexibilidade ideológica, priorizando o que é funcional e eficiente sobre o que é ideologicamente puro ou teoricamente ideal. Em contraste, o populismo na política é um estilo que busca mobilizar o eleitorado apelando diretamente para as necessidades e desejos das massas, muitas vezes em oposição a um “establishment” percebido como corrupto ou alienado das realidades da “pessoa comum”.
Após fechar acordos com o Centrão, um movimento pragmático, e atacar o mercado por causa do déficit fiscal, uma ação populista, o governo inicia a fase “Lula 3.2”, na qual pragmatismo e populismo serão equilibrados conforme o momento e as necessidades. O presidente lida com sentimentos contraditórios que frequentemente confundem os analistas políticos.
Ele ainda convive, e tem grande aversão a isso, com aqueles que tentam manipulá-lo politicamente. Um exemplo disso é a seleção do novo ministro do STF. Lula provocará ansiedade naqueles que tentam influenciar sua decisão, pois controlar o tempo é sua tática para prolongar e ampliar sua influência. Diante das circunstâncias atuais, ele se apossou do centro político do país e relegou a oposição a um bolsonarismo que oscila entre a polarização radicalizada que cansou o país e uma posição independente sem uma narrativa assertiva. Portanto, é um equívoco pensar que Lula sacrificará a viabilidade de seu governo por opções populistas. Não dará chance ao azar como fez Dilma Rousseff.
O recente episódio de ataques ao mercado em função do déficit fiscal mais se assemelha a uma concessão narrativa para o segmento menos pragmático de seu eleitorado do que, propriamente, um desejo de desestabilizar as finanças públicas com populismo exacerbado. Lula tem ciência de que, em 2026, ele será seu próprio concorrente. Em outras palavras, se a gestão das finanças públicas, da inflação e da economia falhar, seu projeto político estará comprometido.
Ele também sabe que, do 1,7 trilhão de reais em investimentos previstos no novo PAC, apenas 371 bilhões de reais — cerca de 20% — virão do Orçamento Federal. Outros 341 bilhões de reais virão de empresas estatais, principalmente da Petrobras. Espera-se que as empresas privadas invistam quase o dobro do que as estatais, com 621 bilhões de reais. O restante virá por meio de financiamento de bancos públicos. Sem o setor privado, o mercado e a Faria Lima, a conta não se sustenta.
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Lula está ciente de que agendas antirreforma não prosperarão no Congresso e, mesmo que a contragosto, está aprendendo a conviver com o semipresidencialismo de coalizão que caracteriza o Brasil atual. O Congresso está dividido e a obtenção de consensos em temas polêmicos é praticamente impossível. Dessa forma, entre o pragmatismo e o populismo, Lula escolherá ambos: decisões predominantemente pragmáticas temperadas com narrativas populistas. Uma no cravo e outra na ferradura, ciente de que, se mergulhar na turbulência econômica, seu projeto político naufragará.