*Alexandre Tostes
As economias globais parecem dar seus primeiros sinais de retomada após o choque causado pela pandemia do COVID-19, o maior desde o “crash” da Bolsa de Nova Iorque em 1929. A previsão é de que seja o início de uma longa e penosa fase de recuperação da economia, que demandará muito de governos, empresários e da sociedade como um todo.
Há determinados setores da economia que, por sua natureza e perfil, tendem a ter uma recuperação mais rápida
Existem segmentos que possuem histórico comprovado de adaptabilidade e capacidade de mobilização eficiente, segura e rápida, além de serem grandes geradores de emprego, mas dependem de esforços de ordem financeira, regulatória e jurídica. É exatamente o que ocorre nos setores de construção civil e da construção pesada.
Não obstante o impacto das crises econômica e política nos últimos seis anos, com reflexos graves para a indústria de construção, a maturidade desse setor no Brasil permite uma retomada do mercado de obras com velocidade e segurança, capazes de aquecer a economia, gerando empregos e promovendo também, por consequência, as demais atividades em toda a sua relevante cadeia de suprimento. Fomenta desde serviços de “catering” à indústria de maquinário de grande porte e equipamentos de ponta, passando pela atividade de produção de aço e cimento.
A experiência de instalar canteiros e executar obras em regiões isoladas, como a Amazônia e o sertão nordestino, ou altamente adensadas, como em projetos imobiliários e de mobilidade urbana em grandes metrópoles, faz da indústria de construção um segmento muito ágil na mobilização de trabalhadores e equipamentos. Assegura, também, capacidade de organização e disciplina para desenhar e executar obras, em prazos muitas vezes desafiadores, com observância aos mais rigorosos protocolos de saúde, segurança e meio ambiente,
Dados do Sinicon apontam que se encontram em atividade cerca de 400 empresas no setor de construção pesada, entre grandes médias e pequenas, que geram, em períodos de estabilidade econômica, milhões de empregos. Abrem-se vagas não só para trabalhadores em funções de gestão e técnicas, beneficiando a mão de obra especializada que hoje enfrenta altas taxas de desemprego, mas também para a parcela da população com baixa formação, alcançando as classes sociais mais vulneráveis. Cerca de 44% dos trabalhadores da indústria de construção não possuem ensino médio completo.
O setor de construção investe no treinamento e capacitação de mão de obra não especializada, sendo responsável muitas vezes pelo ingresso de pessoas no mercado formal de trabalho. Tome-se como exemplo o programa “Acreditar”, desenvolvido para a formação e contratação de mão de obra local para as Usinas do Rio Madeira em Rondônia, e que capacitou entre 2008 e 2010 cerca de 7 mil pessoas para funções como carpinteiro, pedreiro, soldador e operador de retroescavadeira.
Além disso, é preciso reconhecer que as construtoras passaram por profundas transformações de governança e implantaram consistentes programas de conformidade, trazendo para o setor boas práticas e transparência, posicionando-o como vetor para o destravamento da economia sem sobressaltos e intercorrências indesejáveis, como algumas vezes ocorreu em um passado não muito distante.
Foram aproximadamente 500 mil empregos formais perdidos com a recessão entre 2014 e 2019, que deixou inúmeros canteiros abandonados e obras inacabadas. A demanda pelos serviços de construção, que já era insuficiente diante do não atendimento de necessidades básicas da população e do enorme gargalo de infraestrutura que freia o desenvolvimento do país, se torna ainda mais relevante com a crise sanitária da Covid-19.
Felizmente, a indústria de construção já adota de forma rápida e eficiente novos protocolos recomendados em razão da pandemia, estando portando preparada para cumprir seu papel na retomada da economia e na geração de emprego e renda.
Mãos à obra!
Alexandre Tostes é presidente do Sindicato Nacional da Industria da Construção Pesada Infraestrutura (Sinicon).