Pauta carregada na reta final do ano – Análise

De acordo com a Constituição Federal, o Congresso Nacional entra em recesso no dia 22 de dezembro. Portanto, restam dois meses de atividade legislativa. Até lá, há pelo menos seis prioridades para o Poder Executivo. Por conta de dois feriados em novembro (2/11, Dia de Finados; e 15/11, Proclamação da República), quando praticamente os parlamentares param, teremos somente sete semanas de trabalho.

De qualquer forma, há tempo para o governo avançar na pauta prioritária, mas certos ruídos podem criar dificuldades. Entre eles, constam: as nomeações de cargos para o segundo escalão do governo, que continuam demorando; as reclamações quanto à falta de liberação de emendas parlamentares; o conflito na Faixa de Gaza, que tem gerado polêmicas entre o governo, o PT e aliados no Congresso; a nomeação para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR); e a disputa antecipada pela sucessão presidencial na Câmara e no Senado.

Entretanto, de uma forma geral, a perspectiva para a agenda do governo é boa. E é de aprovação. O grande problema para o governo é o timing, que pode sofrer atrasos. A seguir, traçamos uma perspectiva para o calendário e para a votação dos projetos prioritários da agenda governista. Vamos a eles.

Offshore e fundos exclusivos

A votação do PL nº 4.173/23 deve ser concluída na Câmara esta semana. Em seguida, o texto será enviado ao Senado, devendo ser remetido para a análise da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Por conta do feriado na próxima semana, a matéria somente deve chegar ao colegiado na segunda semana de novembro. Espera-se que os senadores concluam a votação até a segunda semana de dezembro. Se a matéria for aprovada sem alterações, segue para sanção. Caso contrário, terá de retornar à Câmara. Nesse caso, a votação pode ser concluída apenas na última semana de dezembro.

Juros sobre Capital Próprio (JCP)

O Projeto de Lei nº 4.258/23 veda, a partir de 1º de janeiro de 2024, a dedução dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O Congresso é contra o fim da JCP e discute com a Fazenda uma solução alternativa. A Câmara pode concluir a votação do projeto até o fim de novembro. Depois, o texto seguirá para o Senado, que pode votá-lo ao longo de dezembro. Se forem feitas alterações, a matéria retornará à Câmara. Nesse caso, aumenta-se o risco de o projeto ficar para 2024.

ICMS

O governo enviou ao Congresso a Medida Provisória nº 1.185/23, que altera as regras de tributação das subvenções concedidas pelo poder público para atrair empresas ou estimular empreendimentos já existentes, como os incentivos fiscais de ICMS dos estados e do Distrito Federal. Em substituição à MP, o governo deve enviar o mesmo texto, mas em forma de projeto de lei em regime de urgência constitucional. Nesse caso, cada Casa teria 45 dias para analisar o projeto. Caso contrário, o texto passa a trancar a pauta de votações. A Câmara deve votar esse texto apenas no fim de novembro ou no início de dezembro. Depois, o projeto segue para o Senado. O Senado terá cerca de duas ou três semanas para concluir a análise. O risco de o projeto ficar para 2024 não pode, portanto, ser desprezado. Para que tal não aconteça, o Senado terá que analisar o texto muito rapidamente e sem fazer mudanças, o que, caso ocorra, forçaria o seu retorno à Câmara dos Deputados.

Reforma Tributária

O cronograma da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Tributária foi definido pelo relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM), que deve apresentar o texto esta semana. A votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) está prevista para o dia 7 de novembro e, no plenário, para os dias 8 e 9. O cronograma, porém, pode sofrer atraso. Como ainda há muita negociação em curso, além do feriado do dia 15, a análise pelo plenário pode ser transferida para a semana do dia 20. A Câmara receberia esse texto na semana seguinte. Mesmo que a ideia seja levar o texto diretamente para o plenário, a Câmara terá apenas três semanas para a análise. Assim, o tema pode acabar postergado para 2024.

Leia mais! Governo libera verba extra de R$ 892,1 milhões para dois ministérios

LDO e Orçamento

A votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve acontecer em dezembro. O Orçamento, porém, pode ficar para 2024 se projetos importantes, como os que envolvem o dos JCP e o da subvenção de ICMS, não forem concluídos neste ano.

Como se vê, há risco de alguns temas ficarem para o próximo ano. Para evitar problemas maiores, a possibilidade de convocação extraordinária do Congresso em janeiro não deve ser descartada. Em especial pelo fato de 2024 ser ano eleitoral, o que, naturalmente, reduz o ritmo de atividade no Legislativo a partir do início de junho.

Postagens relacionadas

Reforma tributária: procurador da Fazenda analisa detalhes da regulamentação

IFI eleva estimativa do crescimento econômico do país em 2024

TSE inicia julgamento que pode cassar Sergio Moro

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais