Intensas movimentações nos escalões superiores da República geram especulações sobre a habilidade política bolsonarista, que estaria remodelando o governo à sua vontade. Ou, então, seriam o que parecem ser, “um show de besteiras”
Itamar Garcez *
O ritmo de mudanças de cargos no Governo Bolsonaro intensificou-se nas últimas semanas. Em seis meses de Governo, o presidente Jair Bolsonaro já substituiu quatro ministros.
A movimentação de militares também é intensa. Em dez dias, foram quatro generais removidos.
Considerando que os militares são um dos esbirros de sua gestão (os outros são os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sergio Moro, da Justiça), a queda de milicos de alto coturno não pode ser colocada na mesma vala das demais. Afinal, é muito provável que Bolsonaro entenda mais das tendências políticas da caserna do que as do Parlamento.
Mas a agitação palaciana foi além. O presidente tirou a articulação política da Casa Civil e, já faz alguns dias, não detrata o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Maia é, não por acaso, desafeto de Onyx Lorenzoni, o titular da Casa Civil.
Nova articulação…
Acomodações políticas são comuns numa administração complexa e gigamensa como a do Governo Federal. O que causa espécie é a maneira burlesca com a qual Bolsonaro trata as demissões, provocando crises desnecessárias.
O caso de Joaquim Levy, demitido da presidência do BNDES, por exemplo. O presidente do Brasil tem poderes quase imperiais no Executivo.
Se quisesse demiti-lo, bastaria determinar ao chefe imediato de Levy, o ministro da Economia, que o fizesse. Optou por uma declaração atrabiliária e que irradiou turbulência contra seu próprio governo.
Tantas trocas alimentam especulações. Bolsonaro estaria promovendo mudanças visando ampliar o controle sobre o Governo, além de direcioná-lo para outro espectro político. Qual? Não se sabe.
Mais. Detonando Guedes e Moro, o presidente estaria afastando dois prováveis concorrentes a seu mandato. Claro, supondo-se que foi o presidente quem detonou os dois mais vistosos auxiliares, e não a inabilidade verbal de um e as conversas suspeitas de outro.
Diante da destreza na articulação política de três de seus antecessores – FHC, Lula e Temer -, Bolsonaro parece amador. Briga e provoca lideranças do Congresso Nacional e insiste em agradar somente seu eleitorado.
…ou velhas trapalhadas
Assim, diante da maior novidade na política brasileira desde a redemocratização, tudo é muito novo e gera múltiplas teorias. Se Bolsonaro realmente aprendeu a articular, vamos saber nos próximos meses.
Logo à frente sobejam desafios, como aprovar a reforma da previdência, deslanchar as privatizações, atrair investidores apesar do inexpugnável quadro tributário brasiliano, incrementar a infraestrutura e, principalmente, reduzir o emprego e a criminalidade. Tarefas hercúleas, que não se faz com tweets e posts.
Outra possibilidade é a de que as mudanças atabalhoadas promovidas pelo capitão-mor sejam exatamente o que parecem. Um “show de besteiras”, como comentou o circunspecto general Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo por Bolsonaro, de quem é amigo há mais de 40 anos. Ou, pelo menos, era.
* Itamar Garcez é jornalista