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Os maiores desafios de Eduardo Leite – Análise

Eduardo Leite, primeiro governador reeleito do RS, depende da reconstrução do estado, para se manter vivo na eleição presidencial de 2026

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O governador Eduardo Leite (PSDB) enfrenta o maior desafio de sua ascendente carreira política. Primeiro governador reeleito da história do Rio Grande do Sul, ele depende do sucesso da reconstrução do estado, atingido por um dos maiores desastres climáticos da história do país, para manter vivo o seu projeto de viabilizar uma candidatura ao Palácio do Planalto nas eleições presidenciais de 2026.

Eduardo Leite

Foto: PSDB/divulgação

Após realizar um primeiro mandato bem-sucedido no campo fiscal, o que permitiu aos gaúchos voltar a pagar em dia os servidores e realizar investimentos, Leite precisará concentrar-se na reconstrução do estado, o que traz importantes desafios. Embora tenha aumentado sua visibilidade – ele atingiu o segundo lugar no país, ficando atrás apenas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conforme o índice de popularidade digital da Quaest –, Leite enfrenta um ambiente político de muitos desafios.

Com 93% do Rio Grande do Sul atingido pelas enchentes, que destruíram cidades inteiras, Leite será cobrado por resultados. A reconstrução, porém, deve ser longa, em meio à forte pressão da opinião pública gaúcha por respostas de curto prazo. Os principais desafios que o governador tem pela frente incluem: 1) a questão habitacional – o estado tem hoje mais de 67 mil desabrigados que vão demandar uma solução rápida para o tema; 2) Porto Alegre está com o aeroporto sem previsão de voltar a funcionar, aumentando o isolamento do estado; 3) parte das estradas também foi destruída pelas enchentes.

Eduardo Leite

Foto: Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal

Sob pressão, Leite cometeu erros nas últimas semanas. O primeiro, ao dizer que o excesso de doações, recebidas de todo o país e de diversas partes do mundo, poderia prejudicar o comércio local. Após ser intensamente criticado, pediu desculpas. O segundo erro foi declarar em uma entrevista à Folha de S.Paulo que o estado recebeu alertas sobre as fortes chuvas, mas que o Rio Grande do Sul também vive outras agendas, como se estivesse diminuindo a importância de tais alertas. O terceiro erro foi quando sugeriu um debate tendo em vista o adiamento das eleições municipais no Rio Grande do Sul, programadas para outubro em todo o país.

Não bastasse essas equivocadas declarações, Leite tem sido questionado sobre a flexibilização permitida a certas normas ambientais. Todo esse ambiente o coloca na defensiva. Na semana passada, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu que Leite e a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul explicassem a mudança na legislação ambiental do estado que avalizou a suspensão de vegetação nativa em áreas de proteção permanente.

As consequências da tragédia ambiental no estado impactarão pesadamente a economia gaúcha. Segundo estimativas iniciais de entidades como Federasul, Fecomércio RS, Fiergs, Farsul e CDL-Porto Alegre, as enchentes devem provocar perdas da ordem de R$ 40 bilhões na atividade econômica. Mas as cifras podem ser mais elevadas ainda.

A retração na economia gaúcha aumentará a dependência do estado em relação à União. Essa dependência no setor econômico também provocará impactos políticos. Mesmo com o bom relacionamento de Eduardo Leite com o presidente Lula (PT), a presença no estado do ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República Paulo Pimenta (PT-RS), agora como ministro-chefe da Secretaria Extraordinária da Presidência da República de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul gera uma disputa política pelo controle da agenda de recuperação.

O governador, ao que tudo indica, aposta no Plano Rio Grande para retomar a iniciativa política. Conforme pesquisa divulgada na quinta-feira (23) pela CNN/AtlasIntel, a atuação de Eduardo Leite na tragédia é avaliada por 51% dos entrevistados no RS como regular. Já 24% avaliam como negativa a atuação do governador. E apenas 22% classificam sua atuação como positiva.

Eduardo Leite

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ainda de acordo com a pesquisa, entre os atingidos pelas enchentes 55,8% tiveram que abandonar a residência e morar provisoriamente em outro lugar.

Já 45,7% tiveram a casa alagada, mas não destruída, enquanto 40,3% perderam bens de valor, como eletrodomésticos e documentos importantes (40,3%). Entre os atingidos pela tragédia ambiental, 55% disseram que necessitam de auxílio financeiro. Já 24,3% mencionaram a necessidade de obter colchões, roupas de cama e cobertores, enquanto 21,1% afirmaram precisar de moradia.

O desempenho de Eduardo Leite na reconstrução do Rio Grande do Sul impactará seu futuro político. Ao contrário da estratégia traçada no início de 2023, quando conciliava a agenda de governador com a movimentação como presidente nacional do PSDB – cargo que não ocupa mais –, sua prioridade absoluta agora terá de ser o estado.

Se o primeiro mandato concentrou-se em temas fiscais e na agenda de reformas, o segundo será marcado pela reconstrução. E será a capacidade de entrega dessa agenda que será decisiva em sua carreira política atual. No entanto, a reconstrução do Rio Grande do Sul pode não ser suficiente para Leite viabilizar um projeto político em nível nacional, já que essa agenda envolve outros atores dividindo os holofotes com o governo estadual, caso dos prefeitos dos 497 municípios do estado e do próprio governo Lula (PT).

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