Início » O cenário de fim de ano

O cenário de fim de ano

A+A-
Reset
ArtigosDestaque

Para começar, devemos dizer que o cenário do segundo semestre é bem melhor do que imaginávamos no início do ano. Em janeiro, muitos — como eu — pensávamos que ia acontecer uma crise que combinaria inflação, desemprego e desaceleração econômica. Tudo decorrente de uma soma de fatores e indícios que se mostravam evidentes, entre eles, a desconfiança com a equipe econômica, as declarações antimercado de lideranças políticas, os efeitos dos juros elevados, a desconfiança de empresários com a conjuntura e, sobretudo, a desconfiança em relação à sobrevivência das reformas realizadas nos últimos anos.

No entanto, uma série de fatores positivos terminaram prevalecendo. A inflação deu sinais de arrefecimento, os ataques à autonomia do Banco Central terminaram ficando em palavras frouxas, o agronegócio bombou com as exportações, um marco fiscal foi aprovado e as reformas, até aqui, estão protegidas. Além do mais, a equipe econômica desceu das nuvens ideológicas para a dureza da realidade de pilotar uma economia complexa, sofisticada e plena de desafios. E está se saindo muito bem.

metas fiscais

Foto: Freepik

Para o final do ano, temos mais sinais positivos do que negativos. Começamos pelas perspectivas de crescimento: a equipe econômica prevê 3,2% de crescimento do PIB para este ano. Caso isso seja atingido, é um número excepcional, especialmente pelas expectativas modestas do início de 2023. O PIB cresce pela força do agronegócio, pelo impacto do programa Desenrola, que favorece a negociação de dívidas, e, ainda, pela queda da inflação. Destaco também a retomada de investimentos em infraestrutura, que aponta um ciclo virtuoso de investimentos.

O cenário só não é de “céu de brigadeiro” por causa da desconfiança com a questão fiscal no ano que vem. O mercado, de forma generalizada, não acredita que o déficit fiscal será zerado em 2024. Para tal, haveria que se obter arrecadação de quase 170 bilhões em receitas extras, o que, no momento, parece improvável. Muitas das receitas previstas são incertas e ainda dependem de aprovação de leis no Congresso. Existem também dúvidas com relação ao Orçamento e à arrecadação esperada com decisões do Carf.

Para o investidor, porém, descumprir a meta não é gravíssimo. Obviamente, zerar o déficit fiscal em 2024 seria mais do que a cereja no bolo das boas expectativas. O Brasil daria um salto de qualidade que repercutiria positivamente no apetite para investir no país. Caso não ocorra o déficit zero prometido, o mercado observará se a curva de endividamento está sendo reduzida de forma consistente.

Leia mais! Ministro do Trabalho vai à Câmara discutir contribuição sindical

Politicamente, a minirreforma ministerial ainda não terminou. Continua um jogo de xadrez misturado com truco, no qual se promete muito e se entrega pouco. De lado a lado, o que termina por gerar alguma tensão política. Os poderes Executivo e Legislativo, porém, estão olhando na mesma direção no que se refere ao crescimento com alguma responsabilidade fiscal. Vale destacar que a presidência de Luís Roberto Barroso no STF, que ora se inicia, tem uma visão de buscar um bom ambiente para investimentos no país e de segurança jurídica. Enfim, o Brasil do final do ano é bem melhor do que parecia ser — nem mar revolto nem céu de brigadeiro, mas com evidentes sinais positivos.

CARFdéficit zeroeconomia brasileiraInflaçãoMurillo de AragãoSTF

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Aceitar Saiba mais