O candidato da Frente de Todos, Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como sua vice, venceu as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), considerado uma prévia da eleição presidencial de outubro.
Fernández obteve uma vantagem de 15,57 pontos percentuais sobre o atual presidente e candidato à reeleição pela coligação Juntos pela Mudança, Mauricio Macri. O nome mais forte da chamada terceira via, o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, do Consenso Federal, ficou em terceiro lugar com menos de 10% dos votos válidos (ver tabela abaixo).
CANDIDATOS | VOTOS | VOTOS VÁLIDOS (%) |
Alberto Fernández | 11.622.428 | 47,65 |
Mauricio Macri | 7.825.208 | 32,08 |
Roberto Lavagna | 2.007.035 | 8,22 |
Outros | 1.873.538 | 7,69 |
Brancos | 758.988 | 3,11 |
Nulos | 300.019 | 1,21 |
Diante da expressiva vitória da chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner, a coligação Frente de Todos desponta como a grande favorita para vencer as eleições presidenciais de outubro.
Com uma vantagem significativa e o governo Mauricio Macri enfrentando um cenário econômico bastante adverso, o presidente passa a depender de um fato novo nos próximos dois meses para reverter a desvantagem.
Vale registrar que, além dos mais de 15 pontos de desvantagem sobre Alberto Fernández, o Macrismo também foi derrotado na disputa pela província de Buenos Aires. A atual governadora María Eugenia Vidal (Juntos pela Mudança), aliada de Macri, obteve apenas 32,71% dos votos válidos no PASO, sendo derrotada pelo candidato do Kirchnerismo, Axel Kicillof (Frente de Todos), que obteve 49,22% dos votos válidos.
A disputa pelo governo da província de Buenos Aires é um parâmetro importante, pois nas últimas quatro eleições, a força política que venceu o governo mais cobiçado da Argentina também acabou conquistando a Casa Rosada.
Nota-se também um grande desgaste do governo Macri em Buenos Aires e na Grande Buenos Aires, os maiores colégios eleitorais da Argentina. Em Buenos Aires, Alberto Fernández venceu Mauricio Macri por 50,56% contra 30%. E na Grande Buenos Aires, Fernández teve 54,65% contra apenas 26,14% de Macri.
Além da vitória do Kirchnerismo, o PASO também mostrou uma dificuldade para a chamada terceira via, representante por Roberto Lavagna, em romper a polarização do Kirchnerismo contra o Macrismo.
A polarização entre Mauricio Macri x Alberto Fernández era esperada desde que Cristina Kirchner decidiu ser a vice de Fernández. A novidade do PASO foi a folgada vitória do Kirchnerismo.
Ao menos por enquanto, funcionou a estratégia do Kirchnerismo em praticamente “esconder” Cristina Kirchner na campanha. Como uma estratégia de campanha centrada na figura de Alberto Fernández, uma liderança política Kirchnerista mais moderada, a coligação Frente de Todos manteve o eleitorado cativo da ex-presidente e conquistou parte significativa do centro explorando a impopularidade de Macri.
Mesmo tendo flexibilizado o ajuste fiscal nos últimos meses e sinalizando em direção ao centro através de escolha de Miguel Ángel Pichetto, ex-aliado de Cristina, como seu vice, a estratégia de campanha de Macri não funcionou.
Apesar de Cristina Kirchner ter uma imagem desgastada junto a 30% do eleitorado, pesou no julgamento da opinião pública o impacto negativo causado pelos problemas econômicos no seu dia-a-dia, mesmo que parte importante deles seja de responsabilidade da ex-presidente.
O resultado do PASO também mostra que a pauta econômica pesou mais que as denúncias de corrupção que pesam contra Cristina Kirchner.
Aliás, a vitória de Fernández reforça o que ocorre com países que vivem situações econômicas ruins e tem governos mal avaliados. Sempre que isso ocorre, o governante que disputa à reeleição ou seu representante acaba tendo muitas dificuldades, sendo derrotado na grande maioria dos casos.
Resta saber agora como será o posicionamento de Alberto Fernández perante o pessimismo dos mercados. Como Mauricio Macri é o candidato do sistema financeiro, haverá uma onda de pessimismo no mercado, que de alguma maneira precisará ser respondida pelo candidato Kirchnerista.
Um dos temores do sistema financeiro é se a Argentina irá honrar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinado pelo governo Macri. Um calote automático pode não ocorrer. Porém uma renegociação dos termos é uma possibilidade, principalmente porque o acordo é mal visto junto a parte importante da opinião pública e criticado pela coligação vitorioso no PASO.
O favoritismo de Alberto Fernández também impactará o Mercosul. O recente avanço do acordo de livre comércio do bloco sul-americano com a União Europeia (UE), articulado pelo governo Jair Bolsonaro, poderá enfrentar obstáculos.
Embora a eleição presidencial argentina não esteja decidida, Alberto Fernández deu um passo importante para conquistar a Casa Rosada em outubro.