O governador João Doria (PSDB) anunciou, na semana passada, que as cidades das regiões de Barretos e Presidente Prudente, no interior de São Paulo (SP), terão de adotar regras mais rígidas da quarentena por causa do aumento de casos de coronavírus.
Com isso, a partir de hoje (15), essas regiões saem da zona “amarela” e migram para a zona “vermelha” do Plano São Paulo. Ribeirão Preto, que era “laranja”, também recuará para a restrição total. Além disso, a quarentena em SP foi prorrogada até o dia 28 de junho.
Já as regiões da Grande São Paulo, da Baixada Santista e de Registro (o Vale do Ribeira), migraram da classificação “vermelha” para a “laranja” após redução do número de novos casos e aumento do número de leitos de internação.
Além disso, outras regiões, como, por exemplo, Bauru e Araraquara, que eram “amarelas”, migraram para “laranja”, que permite a abertura do comércio por quatro horas por dia e com limite de 20% da lotação nos estabelecimentos.
Desde a adoção do chamado “Plano São Paulo”, João Doria tem sido bastante criticado, principalmente porque semanas antes, diante do agravamento da pandemia no Estado, admitia a possibilidade de adoção do lockdown.
A mudança reforçou a tese de que o governador cedeu a pressões do setor empresarial, flexibilizando o discurso de que adotava suas decisões com base em parâmetros estabelecidos por médicos e cientistas.
Resta saber como isso repercutirá politicamente em sua popularidade. Tudo passará pelo resultado do relaxamento da quarentena em São Paulo. Se a crise sanitária for agravada, o capital político obtido por Doria nas primeiras semanas da quarentena, que lhe deu visibilidade nacional, pode ser atingido.
Em manifestações aos meios de comunicação, especialistas criticam a abertura anunciada, pois os números de contaminados e de mortos ainda crescem.
Internamente, no Palácio dos Bandeirantes, além da avaliação que João Doria cedeu a pressão do setor privado, é também criticada o fato da população ter ficado sem entender a postura do governador.
Outro componente é a questão política. Doria também passou a ser muito pressionado por prefeitos, principalmente por aqueles que serão candidatos à reeleição. Nas pequenas e médias cidades do Estado, a dependência da Prefeitura em relação ao setor privado é muito grande. Como consequência, Doria estabeleceu um plano de flexibilização para não correr o risco de perder aliados políticos.
Vale recordar que prefeitos da região metropolitana do Estado ameaçam ingressar na Justiça para reabrir o comércio de suas cidades.
Para amenizar o impacto negativo do confuso plano de reabertura, João Doria anunciou, na última quinta-feira (11), uma parceria do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac para testar e produzir uma vacina contra o coronavírus tão logo esteja aprovada para uso.O governador estima que, após os testes, a vacina poderá estar disponível até junho de 2021.
O ensaio, no entanto, pode demorar de seis meses a um ano, e não deve ser acelerada a fase de testes. Durante a entrevista coletiva, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) se referiu à parceria como “prova do apoio e investimento do governo em ciência e tecnologia e também na cooperação internacional e boa relação com as nações”.
O anúncio da parceria com o laboratório da China teve dois objetivos:
1) tentar criar uma agenda positiva na área da saúde em meio as críticas de que Doria cedeu a pressão dos empresários; e
2) estabelecer um contraponto com o governo Jair Bolsonaro, que possui uma postura crítica em relação aos chineses. No dia seguinte ao anúncio da parceria, o governador postou em suas redes sociais matérias veiculadas na China sobre o acordo firmado do país com o Instituto Batantan.
Apesar da tentativa de João Doria em tentar criar uma agenda positiva a partir da parceria com a China para testar e produzir uma vacina contra a Covid-19, após a repercussão negativa do Plano São Paulo, o diagnóstico do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que testou positivo para coronavírus no sábado passado (13), poderá pressionar novamente o governador a incluir a capital entre as cidades com mais restrições.