A combinação das crises sanitária, econômica e político-institucional se reflete na popularidade do presidente Jair Bolsonaro e fortalece o clima de polarização entre o bolsonarismo e o antibolsonarismo.
Conforme podemos constatar no histórico das pesquisas realizadas pelo Datafolha desde abril do ano passado, embora o bolsonarismo seja uma força social orgânica, contando com o apoio sólido de 1/3 do eleitorado, desde dezembro de 2019 vem ocorrendo uma migração da fatia da opinião pública que avaliava o governo como “regular” para o “ruim/péssimo”. Nos últimos quatro meses, o índice “regular” recuou dez pontos percentuais, enquanto a desaprovação subiu sete pontos.
Pesquisas
Ótimo/Bom (%)
Regular (%)
Ruim/Péssimo (%)
ABR/2019
32
33
30
JUL/2019
33
31
33
AGO/2019
29
30
38
DEZ/2019
30
32
36
ABR/2020
33
26
38
MAI/2020
33
22
43
*Fonte: Datafolha
A segmentação da sondagem por região e renda também traz informações relevantes sobre a popularidade do governo. Quando segmentamos a popularidade do presidente por regiões, observamos que nas duas maiores regiões do país – Sudeste e Nordeste – a desaprovação a Bolsonaro é alta (45% e 48%, respectivamente). No Sudeste, o governo é aprovado por 33%. No Nordeste, o índice positivo é de 29%. No Sul, há empate técnico (39% desaprovam o governo e 35% aprovam), assim como no Norte/Centro-Oeste (38% desaprovam e 37% aprovam).
Quanto à divisão por renda, é possível perceber o impacto que o agravamento da crise econômica, consequência da pandemia gerada pelo novo coronavírus, provoca sobre a avaliação do governo. Em todas as faixas de renda, a avaliação negativa supera a positiva (ver tabela abaixo).
Pesquisas
Ótimo/Bom (%)
Regular (%)
Ruim/Péssimo (%)
Até 2 SM
31
25
43
Mais de 2 a 5 SM
36
21
42
Mais de 5 a 10 SM
36
15
48
Mais de 10 SM
42
8
49
*Fonte: Datafolha
Interessante notar que o auxílio emergencial, que inicialmente ajudou Bolsonaro a compensar a perda de popularidade nos extratos de maior renda, não é mais suficiente para manter fiel o eleitorado de menor renda.
Outro fenômeno observado é que, embora resida na faixa acima de 10 salários mínimos a maior desaprovação ao presidente, é esta também a faixa de renda em que Bolsonaro é mais bem avaliado. Com o avanço da pandemia – e o consequente agravamento do quadro econômico –, é possível que a avaliação negativa de Bolsonaro continue crescendo. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tende a perder pouco apoio entre o terço que o apoia.
O grande problema de Bolsonaro será a economia, sobretudo o desemprego. De acordo com o IBGE, no trimestre entre fevereiro e abril, 4,9 milhões de pessoas com carteira assinada perderam o emprego, gerando um clima social de pessimismo. Segundo o Datafolha, 68% dos ouvidos acreditam que a pandemia afetará a atividade produtiva por muito tempo ainda.
A sondagem mostra que 69% dos entrevistados disseram que sua jornada de trabalho e seu salário foram reduzidos. Entre os trabalhadores com carteira assinada, 43% tiveram redução de salário. Entre os informais, a perda de renda subiu para 51%. Entre os autônomos, foi ainda maior: 78%.
Quanto às respostas econômicas dadas pelo governo para combater esse quadro, nota-se uma divisão: 15% acham que o governo fez mais do que deveria; 37% apontaram que o governo fez o que deveria; e 45% responderam que o governo fez menos do que deveria.
Nesse cenário, o ambiente de polarização entre bolsonarismo x antibolsonarismo deve se cristalizar cada vez mais na opinião pública. Se, por um lado, os fatores conjunturais são desfavoráveis ao presidente, por outro, inexiste uma força política capaz de capitalizar o sentimento anti-Bolsonaro, que hoje se apresenta difuso.