Diante de mais um aumento no preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra dificuldades para combater a inflação, principal obstáculo a seus planos de reeleição. O mandatário tem visto pouco ou quase nenhum efeito prático das medidas e dos projetos anunciados para conter a pressão sobre os preços, sejam eles nas prateleiras ou nas bombas, o que aumenta a especulação sobre como isso pode refletir no pleito de outubro.
Hoje, as diferentes pesquisas de intenção de voto apresentam oscilações que variam de 6% a 20% na diferença entre o ex-presidente Lula (PT) e Bolsonaro, líderes na corrida presidencial. Em todas, no entanto, Lula aparece na frente. Até aqui, a maioria dos levantamentos aponta um segundo turno como o cenário mais provável. Mas a possibilidade de muitos eleitores adotarem o voto útil no primeiro turno preocupa principalmente o entorno do presidente, que teme que todo o esforço empenhado para solucionar a crise seja em vão.
Mesmo que Bolsonaro afirme não acreditar no resultado das pesquisas, são elas que têm pautado a sua campanha, focada, ultimamente, em atrair as mulheres, os jovens e os mais pobres – todos eleitores preferenciais do ex-presidente Lula. Uma das medidas urgentes é a tentativa de substituir os 18 milhões de cartões do Bolsa Família (benefício criado no governo Lula) pelos do Auxílio Brasil, programa repaginado no atual governo. A ideia é tentar associar o benefício ao governo Bolsonaro e, com isso, atrair votos entre o público mais pobre.
Na mais recente pesquisa publicada pela FSB, 64% dos beneficiários do Auxílio afirmam apoiar Lula, enquanto 21% dizem votar em Bolsonaro. No mesmo levantamento, 55% dos eleitores disseram ter deixado de consumir carne vermelha por conta da alta dos preços, enquanto 44% optaram por não comprar combustível. O atraso no pagamento de pelo menos uma conta também foi apontado por 55% dos entrevistados. A inflação e seus efeitos, mais uma vez, escancaram a sangria desatada em 2022.
O tamanho do problema inflacionário levou o presidente a defender a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os lucros da Petrobras. Em outras palavras, o governo agora se lança contra o próprio governo, já que a maior parte da estatal pertence à União. Trata-se de mais um gesto de Bolsonaro direcionado para a campanha eleitoral, já que o temor é de que o eleitor traduza suas dificuldades financeiras nas urnas.