O mito da esquerda e da direita na América do Sul já era, virou fumaça. Não existe uma nem outra do lado de cá da Linha do Equador. O que existe é uma salada mista de vivências e de regimes opressores que, cada um à sua maneira, prejudicou seu país e fez dele mais um na fila do pão.
2019 veio para confirmar o fim da “maré rosa”, que foi o movimento de eleições da esquerda surgido a partir da última década. Agora, temos uma inversão ideológica: Brasil, Peru, Chile e Colômbia trazem a direita como principais representações políticas. Pode-se até considerar uma inversão ideológica mas o balanço eleitoral mostra que o efeito é de nulidade: ambos os lados estão se destacando, mas todos estão com severa instabilidade política, ocasionando uma erupção latino-americana sem volta e sem precedentes.
Em quatro das seis eleições realizadas em 2019, a população não queria mais o governo de posição e votou para tirar esta do pedestal, independentemente da ideologia, e os conflitos gerados por isso causaram diversas manifestações, passeatas e protestos pelo continente, que não só mostra que a população está insatisfeita com o governo, mas com toda a classe política.
Não importa mais se é de esquerda ou de direita, o povo quer renovação. Os mesmos senadores e deputados fazendo os mesmos discursos e repetindo as mesmas mentiras para acabarem roubando os mesmos contribuintes vêm gerando celeuma e causando destruição por onde têm ficado durante tantos anos. Caiu a falácia da “maré rosa”, mas também não temos um levante da direita, porque os problemas continuam os mesmos: continua a crise econômica, a falta de gêneros alimentícios, os impostos altos para custear a máquina pública, o baixo nível de crescimento social, a desigualdade, a violência e a corrupção.
Um novo estudo, publicado pela Transparência Nacional, afirma que o Brasil não avançou no combate à corrupção em 2019 e que a percepção desta hoje é a mesma que no final do governo de Michel Temer (MDB) – isso, por si só, denota que a endemia continua à solta e à espreita na América Latina e, mesmo com os esforços da Operação Lava Jato e das quedas das grandes empreiteiras que dominaram o mercado da corrupção e do crime organizado na última década não surtiu efeito suficiente para diminuir perigos e riscos desta. Ainda que a ONG que realizou a pesquisa não seja um exemplo de rigidez na coleta de dados, é notável que a corrupção ainda está longe de ser questão sanitizada não somente no Brasil, como também em todo o continente.
O lado de cá da Linha do Equador ainda tem muito a crescer e evoluir no que concerne ás bases de um governo estável, mas certamente estão todos cansados do mesmo formato que vem se repetindo ao longo da década de 2010.