A nova dinâmica legislativa

Brasília 60 Anos - Congresso Nacional

Há algum tempo, o Congresso Nacional vem passando por transformações que têm impactado sensivelmente o sistema decisório do Legislativo.

O processo de fortalecimento institucional, aliado a mudanças de ordem processual e no perfil da composição parlamentar tiveram como principal consequência o acúmulo de poder nas cúpulas políticas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Por cúpula, entenda-se o presidente de cada casa e as lideranças a ele alinhadas. Diferentemente de momentos passados em que havia maior compartilhamento de poder, atualmente há total concentração nas mãos dos presidentes e seus aliados. Quem não faz parte do seleto grupo tem participação reduzida nas tomadas decisão. Já o parlamentar solo tem cada vez menos oportunidades de atuação.

Esse fenômeno é mais evidente na Câmara. As últimas mudanças regimentais conferiram à cúpula da Casa maior poder de agenda. A drástica redução dos expedientes de obstrução, com consequente perda de capacidade de intervenção das minorias, deu ao presidente ainda mais controle sobre os rumos das votações. A recente ampliação do número de comissões tende a tornar mais moroso o ciclo deliberativo nos colegiados temáticos, o que acaba por reforçar a soberania do Plenário (obviamente, sob alçada do presidente) como instância decisória.

Há de ressaltar que a depreciação do sistema de comissões já havia sido iniciada na pandemia, a partir da implantação dos processos de deliberação remota e a aplicação de ritos sumários de análise de matérias. Durante esse período, que perdurou por boa parte da legislatura anterior, os colegiados deixaram de funcionar e toda a atividade legislativa foi realizada em Plenário. A excepcionalidade agradou bastante aos presidentes, pois detinham comando absoluto de todas as votações.

Com maior autonomia em relação ao Executivo adquirida a partir do controle de parcelas significativas do orçamento público, esse consórcio se consolida como força política e promove uma relativização da disputa entre governo e oposição. Hoje, esse grupo não se situa dentro dessa dicotomia e atua guiado pelo pragmatismo. Embora orbite em torno dos governos, o apoio é condicionado e demanda um custo elevado de manutenção.

A cláusula de desempenho eleitoral representa mais um fator a contribuir para a concentração de poder, na medida em que ocasiona a ocupação de espaços antes ocupados por partidos afetados por esse mecanismo às legendas maiores, ampliando ainda mais a presença do bloco. A cláusula de barreira, como também é chamada, é responsável por movimentos de aglutinação entre as agremiações partidárias, não só para o cumprimento dos parâmetros, mas também para robustecer grupos políticos.

Por fim, a polarização ideológica, mais acentuada na atual composição do parlamento, também confere papel decisivo às cúpulas. Embates acirrados entre alas progressistas e conservadoras tem sido uma constante. Essa é uma realidade presente até mesmo no Senado, tradicionalmente reconhecido como a casa da moderação. Nesse cenário de forte disputa retórica, a resolução dos impasses naturalmente recai sob esses núcleos de comando.

Postagens relacionadas

Reforma tributária: procurador da Fazenda analisa detalhes da regulamentação

IFI eleva estimativa do crescimento econômico do país em 2024

TSE inicia julgamento que pode cassar Sergio Moro

Usamos cookies para aprimorar sua experiência de navegação. Ao clicar em "Aceitar", você concorda com o uso de cookies. Saiba mais