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A águia e a flecha – Artigo de Murillo de Aragão

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Em uma fábula de Esopo, uma águia está voando alto no céu quando é atingida por uma flecha disparada por um caçador. Ao cair, a águia percebe que a flecha foi adornada com penas de sua própria espécie. A moral da história é a ironia do destino: a águia foi abatida por uma arma feita, em parte, com penas de sua própria espécie. A fábula é frequentemente interpretada como uma lição sobre a trágica situação de ser ferido ou destruído pelos próprios meios ou pelos próprios esforços. Em 2024, Lula deverá se esforçar para que a fábula não se aplique a seu governo. As maiores ameaças que ele enfrentará estarão relacionadas a seu próprio mundo político e às decisões que precisará tomar. Um grande desafio é a eficiência do ministério, que não é harmônica. Existem pastas que não entregam resultados. Existe “fogo amigo” e disputas de ego que minam o resultado de ações do governo. Controlar tais conflitos será essencial. Existem, ainda, inconsistências na coordenação política.

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Aliados se sentem desatendidos em seus pleitos. Parlamentares demoram para serem recebidos por ministros. E há a sensação de que pedidos são atrasados por incompetência ou até mesmo deliberadamente sabotados. Enquanto alguns ministérios entregam resultados, entre eles Minas e Energia, Transportes, Agricultura, Cidades, Desenvolvimento Social, além da equipe econômica, outros ainda estão se reorganizando ou não funcionam adequadamente. No Congresso, a aprovação de agendas do governo é atribuída a esforços da equipe econômica e à liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e não ao engajamento do Planalto.

O presidente Lula ladeado por Rodrigo Pacheco (esq.) e Arthur Lira.

Rodrigo Pacheco, Lula e Arthur Lira – Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Apesar disso, o final do ano será melhor do que muitos imaginavam. O país vai crescer cerca de 3%, o desemprego caiu e a inflação está em queda. No entanto, a pauta do novo ano é complexa e delicada para o governo. Destaco quatro desafios a serem enfrentados. O primeiro, no campo fiscal, refere-se ao cumprimento da meta do déficit zero. Ou seja, à capacidade de autocontrole: gastar menos e obter fontes adicionais de receita. O segundo desafio é o de conciliar aliados que disputarão as eleições de 2024. O pleito municipal é o primeiro movimento das eleições presidenciais. Partidos vão buscar se posicionar para valorizar seu peso. Administrar os conflitos será essencial para evitar rupturas, não afetar a agenda legislativa e, ainda, não engrossar as fileiras da oposição.

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O terceiro desafio é o de contar com candidaturas amigáveis nas eleições para o comando da Câmara e do Senado. As eleições no Legislativo acontecerão no início de 2025. A escolha dos futuros presidentes da Câmara e do Senado será decisiva para os dois últimos anos do governo e para a campanha presidencial. Por fim, no final de 2024, Lula deverá escolher o novo presidente do Banco Central, tema de interesse de investidores e para o ambiente de negócios. Uma escolha duvidosa será negativa. No cenário atual, as possibilidades de insucesso dependem mais do governo do que da oposição, que prossegue sem narrativa e desarticulada. Na prática, o presidente continua sozinho na pista e disputando contra si mesmo. Saindo-se bem dos desafios mencionados, consolidará o seu governo.

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