A escolha do general Walter Braga Netto (PL) como parceiro de chapa do presidente Jair Bolsonaro (PL) faz parte de um conjunto de mudanças que serão operadas na campanha eleitoral do presidente com o objetivo de reformular a estratégia adotada até agora. As inserções do PL na campanha veiculada pelo rádio e pela TV, por exemplo, pouco acrescentaram à imagem de Bolsonaro diante do eleitorado, hoje pressionado pela inflação. Os comerciais em que o presidente aparece em meio a crianças falando sobre a família também pouco agregaram às intenções de voto em Bolsonaro, segundo pesquisas.
Outro problema diagnosticado envolve o slogan escolhido: “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura essa Nação”. Tal slogan, atribuído ao marqueteiro Duda Lima, ligado ao PL, foi bastante criticado por dois aspectos: 1) é muito longo; e 2) foca em temas negativos, como pandemia e corrupção. Aliás, quando esse lema foi ao ar, o próprio vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, criticou-o em sua conta no Twitter.
A provável troca do slogan indica que a campanha de Bolsonaro passará por uma correção de rumo. Afinal de contas, o slogan nada mais é do que a síntese estratégica da mensagem publicitária de uma campanha eleitoral. Nos bastidores, a expectativa é que agora a campanha mire as mulheres, os jovens e os “eleitores arrependidos”, que votaram em Bolsonaro em 2018, mas hoje trocaram de candidato.
A campanha vive uma disputa interna entre dois grupos. O grupo de Carlos Bolsonaro, defensor da repetição da estratégia assumida em 2018, quando o presidente se apresentou como um candidato antiestablishment e apostou numa narrativa centrada no antipetismo; e o centrão, defensor de uma campanha mais profissional, seguindo o modelo tradicional de marketing político, moderando o presidente e acenando ao centro.
Os sinais que temos, a partir da indicação de Braga Netto como vice, em detrimento da ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS), nome defendido pelo centrão, é de que o modelo proposto por Carlos Bolsonaro está prevalecendo internamente. Ainda sem uma direção claramente definida, a escolha do tom da comunicação será mais um desafio a ser enfrentado pelo presidente. Embora o marketing seja um front importante na disputa eleitoral, é a evolução do cenário econômico, em especial a trajetória da inflação, que definirá a sua eficácia.