Formado na política e na comunidade de inteligência da antiga União Soviética, Vladimir Putin encarna uma mistura de diversos líderes que passaram por lá. Apresenta comportamento imperial, como os czaaares, é implacável com os adversários, como Stalin, é estratégico, como Lenin, e tático na guerra psicológica, como Andropov.
A sua esperteza e a sua inteligência consolidaram a Rússia a partir da divisão do poder com oligarcas e militares – uma espécie de Venezuela, mais organizada e próspera. Putin investiu no soft power em relação às Olimpíadas de Inverno e à Fórmula 1, e seus parceiros investem em patrocínios a times de futebol, campeonatos esportivos, entre outros.
Mesmo assim, a Rússia de Putin nunca chegou perto do soft power da União Soviética, que, com as mitificações do marxismo-leninismo, conquistou mentes na academia, na imprensa e no meio cultural em todo o mundo achavam que o comunismo seria a redenção da humanidade.
Apesar das pretensões de restaurar a grandeza do império russo e a autoridade da era soviética, a Rússia de Putin jamais conseguiu chegar perto da influência que a União Soviética teve. Com os episódios recentes, o fracasso é evidente. Ao invadir a Ucrânia, Putin abusa dos motivos que seu país eventualmente teria em torno da questão. Pior, ele os destrói. Muitos sabem as questões umbilicais que unem os dois povos, o que não justifica, porém, uma agressão generalizada ao país.
Com a agressão à Ucrânia, a Grande Rússia compromete a imagem que poderia construir misturando hard e soft power, a fim de ampliar seu prestígio na geopolítica internacional. E ainda empana o brilho de uma cultura rica e extraordinária. O episódio relega o país à Série C do mundo, onde já se encontram Coreia do Norte, Irã, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bielorússia, entre outros. A Rússia se opõe a um undo que, cada vez mais, quer ter governança, equilíbrio e sustentabilidade.
Ainda que a eficácia das sanções impostas à Rússia possa ser questionável, a reação do mundo livre – ao fechar o tráfego aéreo, proibir operações financeiras, cancelar eventos esportivos e patrocínios congelar reservas e fazer empresas desistirem de investir com russos e na Rússia – fere significativamente o governo de Putin e o isola ainda mais. O cancelamento da Russia pelo mundo livre é a reação mais grave contra um país desde à Segunda Guerra Mundial.
Realisticamente, Putin ganharia mais mantendo pressão sobre a Ucrânia e o mundo ocidental com sua guerra psicológica do que partindo para o conflito aberto. Apesar de a reação militar contra a Rússia ser quase nula, a reação financeira, social e cultural será terrível para o país. Putin não avaliou bem as consequências de sua decisão. Pensava que o Ocidente trataria a invasão como um conflito meramente regional e desimportante.