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Indefinições e perspectivas para à esquerda em SP – por Carlos Borenstein

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A construção da candidatura de esquerda que concorrerá ao Palácio dos Bandeirantes continua cercada por indefinições. Na semana passada, após o ex-presidente Lula (PT) afirmar que trabalha “com a ideia” de que o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) “vai ser governador de São Paulo (SP), o PSB reagiu.

Numa resposta a Lula, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, declarou que o candidato do partido será Márcio França. “O PT tem todo direito de escolher seu candidato. O PSB, também escolheu, será Márcio”.

Além do impasse na negociação entre PT e PSB, que passa não apenas pela escolha do candidato que concorrerá ao governo de SP, mas também pela federação de esquerda que está sendo negociada, há ainda uma terceira candidatura do campo progressista: Guilherme Boulos (PSOL).

Recentemente, Boulos foi procurado por Lula, e também por Márcio França. Lula deseja unir PT, PSB e PSOL em SP, evitando assim que a esquerda se divida na disputa ao Palácio dos Bandeirantes.

A pré-candidatura de Fernando Haddad está consolidada internamente no PT. Como conquistar o poder em SP é um sonho do PT – nem mesmo no auge do lulismo os petistas governaram o maior e mais importante estado da federação – dificilmente a legenda abrirá não da candidatura própria.

Porém, Márcio França, que nas eleições de 2018 foi derrotado pelo governador João Doria (PSDB), e se apresenta como anti-Doria e também deseja ser candidato. Além disso, França é um dos responsáveis pela aproximação do ex-governador de SP Geraldo Alckmin (Sem partido) com Lula. Neste complexo cenário temos ainda o PSOL e Boulos, que se opõem a aliança nacional entre Lula e Alckmin.

Apesar da dificuldade que cerca essa negociação, uma unidade das esquerdas pode ser construída nas negociações. Um arranjo comentado seria a candidatura de Haddad a governador com França disputando o Senado.

Nesse hipotético cenário, Boulos poderia concorrer a deputado federal e receber o apoio do PT e do PSB na eleição para Prefeitura de São Paulo em 2024. Como Boulos chegou ao segundo turno em 2020, ele é visto como o candidato natural. Um argumento utilizado pelo PT é que Guilherme Boulos possui força na capital paulista, que possui um voto mais progressista em uma parcela da cidade, mas encontra muitos obstáculos no interior, que é mais conservador.

Outra variável que contribui para um possível entendimento entre a esquerda é o diagnóstico de que, pela primeira vez desde 1994, existe uma chance real de vitória na eleição ao Palácio dos Bandeirantes. Essa avaliação decorre do desgaste natural do PSDB, que está no poder há 27 anos.

Mais do que isso, o PSDB está rachado. Além de Geraldo Alckmin ter saído da legenda, cresce no ninho tucano os questionamentos a viabilidade da candidatura presidencial de João Doria. A combinação de tudo isso repercute em SP, já que o vice-governador Rodrigo Garcia, que se filiou ao PSDB apenas no ano passado, sendo um quadro político da relação pessoal de João Doria, leva Alckmin e setores do PSDB que ainda não trocaram de legenda a terem disposição de trabalharem contra Doria em SP.

No entanto, segundo notícia divulgada pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha, o PT já estaria trabalhando com a hipótese de ter duas candidaturas no campo progressista: Fernando Haddad e Márcio França.

No entanto, há quem veja essa possibilidade até mesmo como uma vantagem para o PT. Isso ocorre porque, segundo pesquisas internas realizadas pelo PT, Márcio França tiraria votos de Rodrigo Garcia. Como França possui uma relação muito próxima com Alckmin, tendo sido vice-governador e governador de SP por seis meses, parte do eleitorado tucano mostraria disposição em votar em França, tirando assim votos de Garcia.

Assim, tendo Fernando Haddad e Márcio França no páreo, o PT aposta – e torce – que França e Garcia dividam o eleitorado de centro. Com isso, o eleitor de esquerda votaria em Haddad. E o voto conservador migraria para o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que segundo a expectativa do PT, tende a crescer por conta de sua associação com o bolsonarismo e também pelo fato de ser um nome novo na disputa.

Enfrentar Tarcísio num eventual segundo turno agrada o PT, pois seria possível nacionalizar ainda mais o debate da eleição em SP. Neste hipotético cenário, Fernando Haddad poderia se beneficiar do sentimento antibolsonarista. Mesmo que Haddad e o PT enfrentem rejeição no interior do Estado, existe a expectativa que Alckmin funcione como um avalista de Haddad na eleição.

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