O PSDB sofreu um novo e importante desgaste na semana passada, quando o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) foi indiciado pela Polícia Federal pela suposta prática de corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro.
O indiciamento de Alckmin teve como base a delação de ex-executivos da Odebrecht, além de análises periciais no sistema de informática da empreiteira, em extratos e conversas telefônicas.
Esse foi o segundo abalo na imagem do PSDB este mês. Além de Alckmin, o senador José Serra (SP) foi denunciado pela equipe da Operação Lava-Jato de São Paulo por lavagem de dinheiro.
Ainda em 2017 o deputado federal Aécio Neves (MG) também esteve envolvido em escândalos de corrupção. Desgastado, Aécio desistiu de concorrer à reeleição ao Senado em 2018 e teve grande dificuldade para se eleger deputado.
Ou seja, todos os candidatos à Presidência da República do PSDB nos últimos 20 anos – Serra (2002 e 2010), Alckmin (2006 e 2018) e Aécio (2014) – estão envolvidos em denúncias de corrupção.
Esse vínculo do partido com a corrupção tem um potencial devastador para a imagem da sigla, acelerando ainda a transição geracional na legenda. Assim, nomes como o dos governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) tendem a ganhar cada vez mais espaço daqui para a frente.
Ainda é cedo para saber que PSDB sairá dessa nova crise. Porém, é possível dizer que aquela legenda de ideologia social-democrata, que marcou os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002), ficou no passado.
A partir de agora, além da transição de nomes, o partido terá o desafio de se reposicionar no tabuleiro político do país, sobretudo após perder parte do eleitorado e a posição da antagonista do PT e das esquerdas para o bolsonarismo.
Uma grande incógnita é o tamanho do impacto das denúncias contra Alckmin e Serra na candidatura à reeleição do prefeito de São Paulo, o tucano Bruno Covas. Embora seja um nome da chamada nova geração de tucanos, Covas carrega o legado do avô, o falecido ex-governador Mario Covas, que pertencia à vertente social-democrata do partido.
Sobre a disputa deste ano na capital paulista, vale registrar que o indiciamento de Alckmin praticamente inviabiliza uma eventual candidatura do ex-governador. Embora Bruno Covas deva ser o candidato, Alckmin chegou a ser especulado como um “plano B” entre os chamados tucanos históricos.
Qualquer projeção sobre o futuro do PSDB ainda é mera especulação. Entretanto, caso o desempenho da legenda nas eleições municipais de novembro não seja satisfatório, o debate sobre a construção de um novo partido de centro para a disputa presidencial de 2022 pode ganhar força.
Vale lembrar que, mesmo com o capital político que o presidente Jair Bolsonaro possui, há espaço para uma nova proposta por parte do campo da centro-direita. É possível que os tucanos da nova geração e políticos de outras legendas com perfil semelhante estejam de olho nesse espaço.
O debate sobre o rumo do centro passará necessariamente por São Paulo, maior estado do país e governado pelos tucanos desde 1995. Vale recordar que, em 2018, o PSDB, através de Doria, teve uma vitória bastante apertada sobre o ex-governador Márcio França (PSB), o que já sugeria certo desgaste da legenda na grande vitrine eleitoral do partido.